O médico, que lidera a Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, reforçou a relevância do anúncio recente que amplia a proteção contra o VSR, agente responsável por casos graves de infeção respiratória como pneumonias, aos recém-nascidos entre 1 de junho de 2025 e 31 de março de 2026. Segundo ele, “os dados são sólidos e vão ao encontro do que já era reconhecido internacionalmente tanto pela prática clínica como pela evidência científica”.
“Este programa alterou completamente o cenário habitual da época sazonal das doenças respiratórias, especialmente entre os mais novos”, afirmou, enfatizando a redução na afluência aos serviços de urgência e na necessidade de internamentos hospitalares.
Em relação ao ano passado, o pediatra lembrou o aumento expressivo de casos de gripe (influenza A e B) entre as crianças, enquanto as infeções causadas pelo VSR registaram uma queda acentuada.
Portugal começou em 2024 a administrar a imunização contra o VSR a bebés nascidos entre 1 de agosto de 2024 e 31 de março de 2025. Para este ano, ainda sem norma definitiva, foi anunciada a intenção de alargar o calendário, abrangendo crianças nascidas entre 1 de junho de 2025 e 31 de março de 2026.
No entanto, Caldas Afonso alertou que esta extensão exclui, por agora, os bebés nascidos em abril e maio deste ano. Estes terão entre cinco a seis meses quando começar a próxima época de maior circulação do vírus e, ao frequentarem creches nessa altura, poderão estar mais vulneráveis. O pediatra mostrou-se esperançoso de que estes também venham a ser incluídos no programa de vacinação em 2026.
“Trata-se, sem dúvida, de um benefício significativo, tanto em termos de resultados clínicos como de eficiência e poupança para o país — algo que também deve ser devidamente quantificado”, destacou Caldas Afonso. O especialista sublinhou ainda o impacto indireto, como o absentismo dos pais que precisam faltar ao trabalho para acompanhar os filhos durante internamentos, além do risco de transmissão do vírus a outros membros da família.
Este ano, “já conseguimos antecipar a vacinação em dois meses, o que representa um avanço muito encorajador”, afirmou. E acrescentou: “Pessoalmente, acredito que no próximo ano os bebés nascidos em abril e maio deste ano também venham a ser incluídos na campanha de imunização”.
De acordo com declarações da então secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, feitas em abril durante o anúncio da extensão da vacinação, no ano anterior registou-se uma redução de aproximadamente 85% nos internamentos, tanto em enfermaria como em unidades de cuidados intensivos, entre bebés com menos de três meses. Já nas crianças entre os três e os seis meses, a diminuição foi de cerca de 40%.
“Portugal está a seguir um percurso sólido e fundamentado, com decisões baseadas em critérios técnicos rigorosos e acompanhadas de cautela, especialmente devido aos custos financeiros envolvidos nesta estratégia”, afirmou. Acrescentou ainda que acredita que, já no próximo ano, será possível avançar com o alargamento da vacinação por mais dois meses. “É, na prática, o que acontece em vários países europeus”, sublinhou.
Caldas Afonso também realçou as “elevadas taxas de adesão à vacinação em Portugal”, explicando que esse sucesso se deve à existência de uma política materno-infantil bem estruturada e consolidada, onde a prevenção é tratada como uma das principais prioridades do sistema de saúde.