Horário das sessões da Assembleia Municipal gera polémica entre PS e PSD 

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O agendamento da próxima sessão da Assembleia Municipal de Marco de Canaveses para as 9h da manhã do dia 23 de abril reacendeu tensões políticas entre os dois maiores partidos do concelho. Em ano de eleições autárquicas, o PSD acusa o PS de restringir a participação cívica e manipular os horários das sessões. Em resposta, os socialistas rejeitam as críticas, consideram-nas infundadas e acusam os sociais-democratas de encenação política.  

Num comunicado, o PSD do Marco de Canaveses não poupou críticas ao presidente da Assembleia Municipal, Jorge Vieira, eleito pelo PS. “A democracia não se faz nas costas dos marcoenses”, começa por afirmar o documento, que denuncia aquilo que considera ser “um comportamento profundamente antidemocrático” por parte do dirigente socialista.

Para o PSD, a marcação da sessão em horário laboral “impede os marcoenses de darem voz às suas preocupações” e constitui “um atropelo à democracia”. Segundo os sociais-democratas, esta prática tem-se tornado recorrente desde que o PS assumiu a liderança da Assembleia Municipal. “Entre 2006 e 2017, na liderança do PSD, apenas por três vezes foram realizadas assembleias em dias úteis. Desde então, já foram marcadas 18 sessões neste formato”, refere o comunicado.

A acusação mais grave surge logo a seguir: “Enquanto o povo trabalha, o PS de Cristina Vieira tenta calar a sua voz.” E reforçam: “Jorge Vieira revelou-se incapaz de garantir a pluralidade democrática, a igualdade de participação e o respeito pelas mais elementares regras do funcionamento institucional.”

O PSD conclui o comunicado com uma promessa: “Continuaremos a lutar por uma democracia aberta, participada e transparente, onde a voz dos cidadãos não seja ignorada e onde as instituições estejam verdadeiramente ao serviço das pessoas — e não dos interesses partidários.”

A resposta do Partido Socialista chegou pouco depois, através de um texto igualmente extenso, que procura desmontar os argumentos do PSD e contextualizar o funcionamento da Assembleia.

“O órgão não tem horários fixos”, começa por esclarecer o PS Marco. “A polémica recentemente criada, pelo PSD, em torno do horário das sessões da Assembleia Municipal é artificial, infundada e, infelizmente, revela apenas a tentativa de instrumentalização política dos órgãos municipais.”

Os socialistas recordam que, no início do mandato, a Mesa da Assembleia reuniu com todos os líderes das bancadas e que nenhum grupo apresentou propostas para alterar o regimento. “Nenhum grupo municipal, repete-se, nenhum grupo, entre eles o PSD, apresentou qualquer proposta para definir horários fixos ou alterar o funcionamento habitual das sessões.”

O PS defende ainda que o atual regimento foi aprovado por unanimidade e que os deputados do PSD estavam presentes. “Na sessão em que o regimento foi aprovado, a própria Mesa questionou diretamente os partidos sobre a intenção de apresentar alterações. A resposta foi clara: não houve qualquer proposta.”

Os socialistas interpretam esta mudança de postura como sinal de oportunismo eleitoral. “Curiosamente, só agora – a poucos meses de eleições – é que este tema surge, com ruído, com críticas, com indignações forçadas.”

O comunicado do PS também defende a legalidade e transparência do funcionamento da Assembleia, referindo que “as reuniões decorrem dentro da legalidade, com ampla divulgação e acesso público”. Sublinha-se ainda que “os membros são devidamente compensados pela sua participação através de uma senha de presença por sessão, no valor de 77,24 €”, e que “as entidades patronais podem requerer o ressarcimento pela ausência dos seus trabalhadores”.

Em tom crítico, o PS relembra que “são muitas as autarquias lideradas pelo PSD – como Lisboa, Cascais, Vale de Cambra, Oliveira do Bairro e Albergaria-a-Velha – a realizar as suas sessões em horário diurno”, sem que isso tenha gerado qualquer indignação semelhante.

Na parte final, os socialistas deixam uma acusação direta ao PSD: “Este é mais um dos momentos em que, após longos hiatos temporais, o PSD surge da letargia dando a pontos de exclamação roupagem de oposição. Mas pontos não são propostas e ideias.”

“O funcionamento digno e eficaz da Assembleia Municipal deve estar acima de táticas eleitorais”, conclui o comunicado.

A poucos meses das eleições autárquicas, a divergência em torno dos horários das sessões da Assembleia Municipal surge. O que para uns é um atentado à democracia, para outros é um falso problema criado por conveniência política. Entre acusações cruzadas, resta saber qual será o impacto deste debate no debate eleitoral e na confiança dos marcoenses nas suas instituições representativas.