São muitas as vozes que, em face das eleições legislativas agendadas para 18 de maio, se lamentam que as mesmas são desnecessárias, que o país as dispensava e que a economia e os agentes económicas se têm de habituar a viver com a instabilidade que agora é característica do nosso sistema político.
Percebendo o ponto de vista e até admitindo que o próprio Autor possa ter incorrido em considerações parecidas, quero aproveitar estas linhas para dizer que este discurso, ouvido ad nauseam, apenas concorre para o desprestigio do sistema democrático.
É preciso dizer que pior do dar ao povo a possibilidade de se pronunciar soberanamente, mesmo que anualmente, será sempre o regime no qual essa pronúncia esteja impedida por princípio.
Além disto, não sendo a estabilidade um valor em si mesmo, ela não deve imperar perante situações em que a manutenção de um estado de coisas seja simplesmente insustentável.
No nosso caso concreto, a manutenção do governo da Aliança Democrática era um desses cenários em que a insistência pela estabilidade apenas concorria para a degradação ainda maior da vida pública, mantendo em S. Bento um primeiro-ministro sobre o qual existem duvidas fundadas sobre a sua conduta ética no exercício do cargo. Além disto, a própria vontade do próprio governo em precipitar o ato eleitoral – admitido em plena entrevista do primeiro-ministro a um programa da tarde – torna evidente que o desfecho necessário seriam sempre as eleições.
A democracia dá-nos esta válvula de escape perante situações como esta. Não havendo estrada para andar e estando o sistema paralisado, devolve-se a palavra as pessoas para que estas apontem o caminho a seguir em face do cenário que é colocado.
Ainda bem que assim é!
Pedro Sousa
Advogado e Presidente da Juventude Socialista de Paredes