Artigo de Opinião | Seis por meia dúzia ou haverá surpresas?

Jorge Oliveira
Diz-se que a política é uma roda-viva mas, por vezes, mais parece um carrossel avariado que insiste em dar voltas ao mesmo eixo. O governo caiu, as eleições antecipadas estão agendadas para dia 18 de maio e o país encontra-se naquele impasse típico: a incerteza de saber se vamos trocar seis por meia dúzia ou se alguma surpresa se esconde na manga dos eleitores.

Olhando para os números de março de 2024, seria imprudente acreditar que tudo ficará igual. Houve, nesse ato eleitoral, mais 910 mil portugueses a sair da sua zona de conforto abstencionista para votar. Um ato de revolta? Um suspiro de mudança e de esperança? Talvez um pouco dos dois. O que parece certo é que os partidos do chamado “arco da governação” continuarão a sua disputa pela liderança do governo, mas sem grandes garantias de uma maioria segura. O PS com a esquerda extremista e radical ou a AD com a IL, não deverão conseguir formar uma maioria de 116 deputados, enquanto o Chega tenta entrar na conversa sem ser convidado.

Se tivéssemos de apostar num desfecho, o cenário mais provável seria o reforço do resultado da AD. Não apenas por mérito próprio, mas porque as engrenagens eleitorais têm padrões específicos e repetíveis ao longo dos tempos. Primeiro, porque questões éticas, como as que são imputadas ao primeiro-ministro, raramente mudam votos, apesar da indignação ruidosa e muito duvidosa das oposições. Segundo, porque o desgaste de um governo não acontece de um dia para o outro — e este não teve ainda tempo de se desgastar. Terceiro, porque se o eleitorado de direita decidir unir-se numa solução governativa, a AD será a escolha natural por estar mais perto de governar do que o restante espetro político de centro-direita. E por fim, porque, a bem da verdade, há uma perceção generalizada de que o primeiro-ministro e o governo conseguiram desatar alguns dos nós que amarravam o país há anos e, com isso, uma avaliação muito positiva da governação.

Este será um ano longo. Uma maratona de campanhas que nos levará das legislativas às presidenciais de 2026, com autárquicas pelo meio. E se há um município onde se prevê faísca, é em Paredes, onde a contenda promete ser animada e muito disputada. Um excelente tema para uma próxima crónica.

No final do dia, a democracia segue o seu curso. As “crises políticas” são apenas soluções em pausa, que aguardam pelo veredicto das urnas. Tudo o resto é ruído de fundo.

Jorge Oliveira