A introdução dos novos escalões tarifários na fatura da água na freguesia de Recarei – Paredes resultou num aumento significativo do valor total a pagar, mesmo sem uma alteração drástica no consumo. A diferença entre as faturas de dezembro, janeiro e fevereiro ilustra o impacto da nova estrutura tarifária, evidenciando que o encarecimento não se deve a um aumento do consumo, mas sim à nova forma de cálculo. A existência dos três escalões tarifários levanta questões sobre os efeitos dessa mudança, que, embora justificada pela necessidade de incentivar um consumo responsável, trouxe encargos financeiros expressivos para os consumidores.
O presidente da Junta de Freguesia de Recarei, Belmiro Sousa, ao telefone, esclareceu que “não houve um aumento na tarifa da água, mas sim uma alteração nos escalões de consumo”. Segundo o autarca, o preço por metro cúbico manteve-se inalterado, sofrendo mudanças na distribuição dos escalões. Tal facto, poderá ter um impacto direto no montante pago pelos consumidores.
O presidente da Junta de Freguesia de Recarei, referiu que está a “trabalhar em conjunto e com o com o apoio do SMAS”.
Apesar destas mudanças, a Taxa de Disponibilidade – o valor fixo pago mensalmente – mantém-se nos 3,50 €. No entanto, a tarifa variável será agora mais progressiva, ou seja, quanto maior o consumo, maior o custo por metro cúbico.
O aumento significativo das faturas
A análise detalhada das faturas de água revela um impacto significativo da alteração na estrutura tarifária, refletindo diretamente no valor final a pagar. Antes da implementação dos novos escalões, o consumo era cobrado a uma tarifa única de 0,7075€ por metro cúbico, o que resultava em valores mais previsíveis e controláveis para os consumidores. No entanto, com a nova estrutura, a aplicação de três escalões tarifários criou uma grande variação nos preços, tornando o custo da água significativamente mais elevado para quem consome acima dos níveis mínimos estipulados.
Na fatura de dezembro, o consumo registrado foi de 15 metros cúbicos, e a tarifa única aplicada gerou um custo total de 10,61€ referente à água, acrescido de uma tarifa de disponibilidade de 3,30€ e um IVA de 6%, resultando num total a pagar de 14,75€. Com a entrada em vigor da nova estrutura tarifária em janeiro, para o mesmo consumo de 15 metros cúbicos, a água passou a ser cobrada de forma escalonada. Nos primeiros três metros cúbicos, foi aplicada uma tarifa reduzida de 0,664€ por metro cúbico, seguida por um segundo escalão, que cobre dos 4 aos 10 metros cúbicos, com uma tarifa mais elevada de 1,066€ por metro cúbico. O maior impacto surge no terceiro escalão, que abrange os consumos acima dos 10 metros cúbicos e tem um custo significativamente maior, de 2,0027€ por metro cúbico. Essa nova divisão resultou num custo total da água de 22,76€, acrescido da tarifa de disponibilidade e do IVA, culminando num total de 24,13€, um aumento de 9,38€ em relação ao mês anterior, o que representa uma subida de 63,6% no valor da fatura.
O impacto tornou-se ainda mais evidente na fatura de fevereiro, quando o consumo subiu para 17 metros cúbicos. Com o mesmo critério de distribuição por níveis de consumo, os primeiros três metros cúbicos foram cobrados à tarifa mais baixa, os sete metros cúbicos seguintes a um preço intermediário, e os últimos sete metros cúbicos à tarifa mais elevada, resultando num custo total da água de 26,77€. Com os encargos adicionais, o total a pagar aumentou para 28,38€, ou seja, 13,63€ a mais do que em dezembro, representando um aumento percentual de 92,4%.
A justificação para os escalões tarifários
O primeiro escalão, que abrange os primeiros três metros cúbicos, tem um custo reduzido para assegurar que todas as famílias tenham acesso a um volume mínimo essencial sem um impacto financeiro excessivo. O segundo escalão, que cobre o consumo de quatro a dez metros cúbicos, aplica uma tarifa intermediária, refletindo um uso moderado e equilibrado. Já o terceiro escalão, que incide sobre consumos superiores a dez metros cúbicos, apresenta um custo significativamente mais elevado.
“Não havia necessidade de um aumento tão elevado”
Os efeitos dessa nova atualização tornam-se ainda mais evidentes ao analisar casos concretos. Um morador que, em 2024, pagava 14,75€ por um consumo de 15 metros cúbicos, em 2025 passou a pagar 24,13€ pelo mesmo volume de água, sem qualquer aumento no consumo. Essa diferença de 9,38€ representa um aumento de aproximadamente 63,6%, um valor significativo para qualquer orçamento familiar, tal como refere Emanuel Machado, residente da freguesia, expressou sua indignação perante a situação: “Fiquei admirado quando soube da subida de preços da água de consumo da vila de Recarei, visto que estamos a seis meses das eleições. Para além de mim, os meus familiares e vizinhos também ficaram admiradíssimos e não entendemos a razão, porque a água é captada nas margens do rio Sousa em Recarei. Não havia necessidade de um aumento tão elevado.”
Esse cenário repete-se em diversas habitações, onde a mudança na estrutura tarifária fez com que o custo da água subisse drasticamente, independentemente dos hábitos de consumo. Moradores que levantam questões sobre a justificação para este aumento, uma vez que a captação da água continua a ser feita localmente, sem a necessidade de compra a empresas privadas. “Este aumento é exagerado porque a água é captada nas margens do rio Sousa e em vários furos de várias zonas de Recarei. Caso contrário, se a água fosse comprada a empresas privadas e depois fornecida à população, aí até aceitava. “No meu caso, foi um aumento de aproximadamente 64%. Para um bem de primeira necessidade, é um aumento grande.”, sustenta Emanuel Machado. O morador faz uma apreciação mais profunda, realçando que “a única justificação que eu vejo para este aumento é que a Junta de Freguesia, neste momento, está com grandes dificuldades financeiras e precisa urgentemente de dinheiro. Se não vejamos, é curioso que, com a tabela de preços antiga, a Junta de Freguesia de Recarei faturava 600 mil euros por ano. Agora, com este aumento, vai faturar à volta de 1 milhão de euros por ano, 4 milhões por mandato. Estou para ver onde vão gastar este dinheiro”, questiona.
Além da subida dos preços, há também críticas à falta de investimento na infraestrutura hídrica da freguesia, algo que, segundo Emanuel Machado, deveria ter sido prioridade antes de qualquer aumento: ”Mais, se a água, que é a maior fonte de rendimento da Junta, por que não investiram em desenvolvimento e modernização das tubagens, depósitos e equipamentos? Deixaram tudo se desgastar e envelhecer, tornando muito difícil a Junta ter capacidade financeira para recuperar. Ou a intenção dos responsáveis, já que vão sair nas próximas eleições, é mostrar aos Recaredenses que a Junta não tem capacidade para recuperar todo o sistema e entregar ao Município, que tanto quer explorar a água desta freguesia?”.
Quando questionado sobre se houve alguma mudança na empresa responsável pela distribuição da água, Emanuel Machado esclarece: ”Que eu tenha conhecimento, continua a ser a Junta de Recarei a captar a água e a fornecer aos Recaredenses. Mesmo assim, tem-se visto vários técnicos do SMAS a dar apoio aos técnicos da Junta de Freguesia.”
O morador também deixou claro que pretende continuar a manifestar o seu desagrado em relação à nova política tarifária e que fará ouvir a sua voz na próxima Assembleia de Freguesia, “irei continuar a demonstrar o meu desagrado e estarei presente na próxima Assembleia de Freguesia de Recarei, onde irei expor o meu desagrado em relação a este aumento.”
Mesmo sem um acréscimo na utilização, a simples redistribuição do consumo pelos três escalões fez com que as contas de água disparassem, deixando muitos consumidores preocupados com os custos adicionais.
A questão da subida do preço da água continua a ser um tema quente na freguesia, com moradores exigindo explicações e medidas que minimizem o impacto financeiro da nova estrutura tarifária.