Incoerências políticas e desigualdades nas ex-SCUT

Nuno Serra Lordelo | NOVUM CANAL
A recente aprovação, na Assembleia da República, do Projeto-Lei n.º 72/XVI apresentado pelo PS e que foi aprovado graças aos votos favoráveis da coligação entre o PS, o Chega e outras forças políticas representadas na Assembleia da República, e que visa isentar algumas ex-SCUT do pagamento de portagens, suscita diversas questões éticas e morais, mas acima de tudo revela inconsistências políticas preocupantes, com grave prejuízo para a região do Grande Porto, Tâmega e Vale do Sousa.

Quem me conhece sabe perfeitamente que sempre defendi a abolição de portagens nas Ex-Scuts, e desde logo pela razão que o próprio nome suscita: S.C.U.T. (sem custos para o utilizador), pelo que seria de louvar a iniciativa de isentar as portagens nestas vias, com o objetivo de promover a coesão territorial e melhorar a qualidade de vida nas áreas abrangentes a esta medida. No entanto, aquilo que me choca, não é esta súbita e estranha mudança de posição do PS que, após anos de governação e votações contrárias à abolição das portagens, tenha agora liderado este movimento; o que me revolta, é o facto de ter esquecido vias estruturantes do Distrito do Porto.

Numa região onde se enfrentam problemas únicos de mobilidade, a precisar desesperadamente de investimento e cuja indústria dominante presente, enfrenta desafios de competitividade nunca antes vistos, resultante também do “garrote” da carga fiscal e custos da mobilidade rodoviária elevados, a exclusão da A41 e A42 deste pacote é particularmente preocupante, pois demonstra uma falta de consideração e respeito pelos utilizadores destas vias e uma falha grave em promover o desenvolvimento equitativo do país. Em vez de fortalecer a coesão territorial, esta medida apenas acentua a disparidade entre regiões.

A discriminação negativa que a nossa região, especialmente o Tâmega e Sousa, continua a enfrentar é alarmante. Municípios como Paredes, o mais distante da área metropolitana do Porto, são especialmente afetados por esta exclusão. Espero sinceramente que a voz do Poder Local Regional (AMP, CIM Tâmega e Sousa e Municípios) se una e se faça ouvir junto da Assembleia da República numa tentativa de corrigir este verdadeiro atentado à coesão territorial. E aí sim, espero que todas as forças políticas, aprovem esta iniciativa.

Nuno Serra
Presidente da Mui Nobre Cidade de Lordelo