Para tentar perceber qual a realidade desta região, o Novum Canal contactou com médicos, farmacêuticos, jovens e trabalhadoras sexuais para recolher todos os dados relevantes que sirvam de alerta para a importância da prevenção.
Aparentemente os jovens estão conscientes das possíveis consequências de uma relação sexual sem preservativo. Contudo, a gravidez parece ser a maior das preocupações.
Por isso nunca é demais realçar o papel que a Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa tem estado a desenvolver desde que abriu as portas à prevenção de doenças infeciosas.
Rogério Ruas, médico especialista em doenças infeciosas, lidera a estratégia de controlo das infeções sexualmente transmissíveis e da infeção pelo VIH em Portugal, promovendo o acesso à prevenção, rastreio, diagnóstico precoce e tratamento adequados.
Confrontado com os referidos relatórios, Rogério Ruas diz existir um aumento transversal a todo o território da região.
Para além do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, o Serviço de Doenças Infeciosas é também responsável pelas consultas de infeção VIH e de profilaxia pré-exposição pelo VIH no adulto. É o chamado PrEP.
Este método, de prevenção da infeção pelo VIH, é importante, contudo, não previne as outras infeções sexualmente transmissíveis (IST). Ainda assim, o controlo é maior.
Refira-se que a consulta de infeção VIH e de profilaxia pré-exposição pelo VIH no adulto é aberta, gratuita e o utente pode inscrever-se presencialmente, nos balcões da Consulta Externa do Hospital Padre Américo e do Hospital de São Gonçalo, ou através do email: consulta.infeciologia.prep@chts.min-saude.pt.
Uma referência também ao “Autoestima”, um programa regional integrado no Serviço Nacional de Saúde, presente no Norte de Portugal que dispõe de duas unidades móveis e dois Centros de Aconselhamento.
Este programa realiza um trabalho de proximidade, visitando regularmente bares, apartamentos e vivendas, ruas e estradas com as suas unidades móveis. Nos centros de Aconselhamento o atendimento é realizado por uma equipa multidisciplinar.
Todos os serviços prestados no âmbito do Programa Autoestima são anónimos, confidenciais e gratuitos.
O programa tem como principal objetivo prevenir e reduzir a incidência de infeções sexualmente transmissíveis (IST) entre pessoas trabalhadoras do sexo, parceiros e clientes, assim como promover o seu bem-estar geral. Esta abordagem promove também a autoconfiança, a autoestima e o acesso a serviços de saúde e de apoio social.
Como se percebe, são várias as entidades e instituições que estão, neste momento, empenhadas em alertar para a importância do uso de preservativo para prevenir infeções sexualmente transmissíveis, que estão a aumentar em Portugal e esta região não se desvia dos números registados.
Apesar de todos os alertas, as farmácias ainda não sentiram qualquer aumento nas vendas, conforme revelou Beatriz Carvalhinho, diretora técnica da farmácia Bem-Me-Quer, em Paredes.
Diariamente, mulheres e homens trabalhadores de sexo, lidam com os riscos inerentes à atividade. O Novum Canal deslocou-se a alguns locais frequentados por mulheres que declinaram os pedidos de entrevista.
Mas a cada passo, tomamos conhecimento de circunstâncias e de modos de vida diferentes. Em cada caso, há histórias e narrativas diversas. Há, contudo, um ponto comum: o uso de preservativo.
Atualmente, as trabalhadoras de sexo de rua esperam, resguardadas nas suas viaturas junto à via pública, pelos clientes que passam casualmente. Também há os que frequentam o local com alguma assiduidade e, por isso, têm acesso ao contacto telefónico da trabalhadora de sexo que marca hora para mais um encontro fugaz. Serão dez minutos de puro prazer, para o cliente, e muitas vezes dois dedos de conversa para desabafar das arrelias da vida.
O Novum Canal falou com um dos clientes. É reformado, casado, tem filhos e netos. De quando em vez gosta de dar a sua volta para espairecer e desanuviar. Ficamos a saber que para alguns, esta é uma forma de estimular os seus casamentos. Perante a informação de que houve um aumento de doenças sexualmente transmissíveis, garante que usa sempre preservativo.
E não poderia ser de outra forma. Na abordagem realizada às trabalhadoras, todas exigem o uso de preservativo que, de resto, possuem e obrigam os clientes a utilizar.
Simplesmente Maria!
Maria, nome fictício, é bem formada, culta e bonita. Ninguém lhe daria 50 anos. Maria é trabalhadora de sexo há 2 anos, mas desempenha funções noutras empresas. O meio tempo em cada uma resulta em menos de mil euros. Vive no Porto com os filhos. As despesas são imensas. Por isso, as poucas horas que passa com clientes significam o pagamento dos gastos familiares.
A dada altura, no decorrer da nossa conversação, Maria vai balbuciando as dificuldades sentidas no início deste processo, só superadas através do referido programa “Autoestima”. Falou-nos da vontade de chegar a casa, numa correria estonteante banhada por lágrimas de repugnância. O fim do dia seria sempre marcado pelo desejo de tomar um duche, retirar toda a maquilhagem e voltar a ser, simplesmente, Maria.