No coração de tradições e valores familiares, a família Rocha Monteiro está unida, a cada ano que passa e celebra o compasso pascal nas portas que encontram abertas prontas para os receber. Desde gerações passadas, essa prática tem sido uma parte central desta família e acaba por ser um momento de união familiar.
Ao longo dos anos, a tradição tem sido transmitida de pais para filhos e para netos, reforçando os laços entre as diferentes gerações. Os avós, que começaram a tradição, passaram para os filhos e genros, que agora compartilham essa prática com os seus próprios descendentes.
Na comunidade local, esta é uma cena que não passa indiferente aos olhos de quem os vê, onde o vínculo entre pais e filhos é fortalecido por meio da participação conjunta no grupo que leva o compasso Pascal.
Marco Gomes, o pai, juntamente com os dois filhos mais novos, Lúcia e Joaquim, de 8 anos, participam no compasso pascal há dois anos. Já Leonor, de 16 anos, participa desde os seus oito anos de idade e a sua irmã Luísa, de 13 anos, também a acompanha desde cedo, tinha apenas seis anos quando se iniciou nesta aventura.
Cada membro contribui com sua parte, criando um senso de colaboração e pertencimento ao grupo onde estão inseridos. Marco, o patriarca leva a Cruz de Cristo, Leonor, carrega a cadeira com água benta, enquanto Luísa, Lúcia e Joaquim, fazem soar os sinos com as campainhas que levam nas suas mãos.
Para Marco, que acabou por ser influenciado pelos filhos, a oportunidade de compartilhar essa experiência com eles é inestimável. “Sinto-me orgulhoso e muito feliz. É extremamente gratificante sentir os meus filhos integrados, pois é uma tradição secular e familiar, e tudo começou com o avô Aureliano, antigo sacristão da igreja Matriz”. Para este pai, esta é assim uma maneira especial de transmitir os valores e fé para a próxima geração.
Assim como o pai que foi influenciado, todos os membros acabaram por o ser. Leonor, a irmã mais velha conta que a sua integração acabou por ser “uma forma de eu homenagear o meu bisavô Aureliano, sacristão, que sempre adorou e participou no Compasso”. Já Luísa, admite ter sido influenciada “pela minha irmã e pela sua experiência positiva no compasso”.
A mãe, Maria Manuel Rocha, cresceu junto à igreja Matriz e sempre viveu de perto estas festividades. “Adoro a Páscoa e sempre participei ativamente nas celebrações, pois o meu avô era sacristão”, conta. Estando do lado de fora e a assistir à envolvência do marido e dos filhos nesta tradição, “o meu coração enche-se de alegria e emoção. Sinto-me extremamente orgulhosa por vê-los a participar no compasso, sem complexos ou receios de julgamentos. Vejo que vão felizes e gostam de fazer os outros felizes! O meu avô, lá no céu, está certamente orgulhoso por termos continuado a perpetuar a tradição que ele mais gostava”.
É um dia diferente para esta família. Enquanto a maioria das pessoas estão em casa a receber o compasso Pascal, eles levam a cruz até essas casa. E, “é precisamente por ser diferente é que é especial. Levamos a alegria de Cristo ressuscitado a todas as famílias desde as 9h00 da manhã até ao final da tarde”, ressalva Marco Rocha. Na mesma linha de pensamento encontra-se Leonor, “o dia de Páscoa é vivido de forma muito alegre e divertida, uma vez que levamos a alegria da ressurreição de Jesus de casa em casa. Apesar de ser cansativo e de não podermos aproveitar o dia com a nossa família, é uma experiência que vale a pena, pois sentimos a alegria e a emoção de quem nos recebe”. Também Luísa, assume viver este dia com muita intensidade e alegria, “ficamos sempre felizes por voltar a ver as pessoas que nos receberam no ano anterior e que estão sempre prontas a encher-nos de mimos e palavras de apreço”.
Todos estão imbuídos pelo mesmo espírito. O pai Marco, assume que “todos nos recebem bem”, porém, ressalva “que há cada menos pessoas a abrir as portas ao Compasso, por diversas razões inerentes à atualidade da nossa sociedade”.
Enquanto a família Rocha Monteiro continua sua jornada ao longo das ruas locais, carregando a cruz e compartilhando mensagens de esperança e renovação, os seus exemplos inspiram outros a valorizarem os laços familiares e a participarem ativamente das tradições que transcendem gerações. Os amigos de Leonor e Luísa, “sentem orgulho em mim e ficam felizes com a minha participação, pois conhecem as minhas crenças, respeitam-me e admiram a minha persistência e coragem”, afirma a irmã mais velha.
Maria Manuel, a mãe, também espera que a envolvência da sua família sirva de “exemplo e inspiração para outras famílias, no sentido de estarem mais dispostas a participar nestas tradições que levam Cristo aproximar-se de cada casa, levando o conforto, a alegria e o amor ao próximo.
Ao final do dia, após o recolher das Cruzes, sentem-se “cansados mas com a sensação de dever cumprido, pois o retorno pessoal é extremamente recompensador”, sustenta Marco Rocha. Tal como Leonor que diz ser tudo tão compensador que rapidamente recuperam. Já Luísa, sente-se revigorada e com a sensação de dever cumprido e admite que “quando me deito, ainda ouço as campainhas a tocar”.
Para esta família, esta é uma experiência única que os une como família e os conecta ainda mais à nossa comunidade. Compartilhando momentos significativos, mantêm assim viva a tradição e juntam-se todos os anos aos demais membros da comunidade para levar o compasso Pascal às casas locais, num gesto de devoção e solidariedade.