São enfermeiro(a)s e alguns e algumas são jovens. Iniciaram a sua vida profissional há, relativamente, pouco tempo. Há quem exija anonimato, na esperança de ainda regressar ao mesmo local de trabalho, ou renovar o contrato. Integram uma bolsa de recrutamento de enfermeiros e, por várias circunstâncias, arriscaram abandonar outros locais de trabalho, onde alguns se encontravam, também, em condições precárias, mas outros já com contrato sem termo.
Foi o que aconteceu a Ana Rita Ribeiro e a Sofia Madureira. A primeira, residente em Penafiel, encontrava-se a exercer funções no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, desde 2020, após ter celebrado um contrato individual de trabalho a termo incerto, em plena pandemia.
Participou no concurso público para contratação de enfermeiros para o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS). Após a celebração de um contrato individual de trabalho a termo incerto para substituição de um profissional ausente por motivo de doença, iniciou funções em 3 de julho do corrente ano.
Hoje está arrependida de o ter feito. A 7 de novembro foi informada, telefonicamente, pelo departamento de recursos humanos daquela unidade hospitalar, para a informar que no dia seguinte, dia 8, o colega regressaria ao trabalho, pelo que o seu contrato cessava nesse mesmo dia.
Sofia Madureira, residente em Felgueiras, exercia funções no Hospital de Santo António, no Porto, onde já era efetiva. Trocou a estabilidade laboral que adquirira na esperança de poder contribuir para um projeto que aumentasse a capacidade de resposta do serviço público, mas mais perto de casa. Também Sofia se viu, subitamente, excluída de qualquer plano de trabalho no CHTS.
Tendo em consideração a atual realidade, os profissionais consideram ser contranatura o que se tem passado. Os enfermeiros têm tentado “lutar contra a maré”, mas a resiliência começa a fraquejar.
Sofia Madureira está desempregada e Ana Rita trabalha a recibos verdes numa clínica privada.
José Pedro, nome fictício, também trocou o certo pelo incerto. Não “dá a cara”, por enquanto, por se encontrar ainda a exercer funções, também no âmbito de um contrato de substituição. Com mais de 30 anos de idade e uma família constituída, faz “contas à vida” para tentar perceber como vai pagar as despesas e o crédito à habitação, com as prestações a aumentarem de dia para dia. Tem até meados de janeiro para encontrar soluções, prevendo que a sua sorte não será diferente da de Ana Rita e de Sofia.
Lamenta também o facto deste tipo de contratos limitarem a entrega, criatividade e crescimento, nos projetos em que não participam por “terem os dias contados”.
Um período de espera, sem perspectivas de futuro é o que sentem os enfermeiros com vínculos precários, impossibilitados de avançarem no seu crescimento profissional.
O Sindicato dos Enfermeiros tem conhecimento de todas estas situações que não passam apenas pelo Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa.
Trata-se de um mal geral, diz a enfermeira Fátima Monteiro, dirigente do sindicato, para quem é o próprio Ministério da Saúde que está a fomentar a precariedade laboral dos enfermeiros.
Fátima Monteiro aponta o dedo ao governo, responsabilizando-o pelo agravamento das condições precárias em que se encontra um elevado número de enfermeiros.
Para Fátima Monteiro, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros, a precaridade destes profissionais põe em causa a qualidade dos serviços prestados. Segundo esta responsável, o desrespeito por estes profissionais afeta a capacidade de resposta do serviço público.
O Novum Canal contactou o CHTS no sentido de perceber a atual realidade existente nesta instituição hospitalar. Até ao momento não obteve resposta.
Entretanto esta terça-feira, o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses reuniu com o secretário de Estado da Saúde. Em cima da mesa esteve a vinculação de mais de mil profissionais e a contagem do tempo de serviço. Uma reunião que terminou sem acordo e com o sindicato a marcar uma concentração para a próxima terça-feira, em frente ao Ministério da Saúde.