Ana Moreira da Mota, da freguesia de Peroselo, concelho de Penafiel, é uma das artesãs mais antiga da Agrival e um especialista na arte de trabalhar a lã.
A artesã, com 88 anos de idade, que tem vários trabalhos expostos neste certame, destacou, em declarações ao Novum Canal, que desde os 14 anos que faz peças de lã.
“Foi a minha irmã que me ensinou a tecer. Gosto de trabalhar este tipo de peças, têm um valor incomensurável”, disse, admitindo que este é um trabalho duro e muito trabalhoso que implica várias fases até que o produto que se pretende esteja concluído.
“Recolho a lá, as pessoas que têm as ovelhas oferecem-me a lá, escaldo a lá com a água a ferver para tirar a gordura e desinfetá-la porque ela vem muito suja. Depois de lavada ganha uma outra cor e aspeto, e é preciso esgadelhar, carpear e cardar”, disse.
“Depois de esgadelhada passa para as cardas. Tem de ser cardada e é fiada. Depois de cardeada faço os fios que serão usados para fazer as peças”, afirmou, sustentado que todas as peças são feitas de forma manual, o que lhes confere um valor único e as tornam tão especiais.
“Estamos a falar de peças únicas, que só os verdadeiros apreciadores deste ofício apreciam”, adiantou, admitindo que a confeção das peças varia de peça para peça e do tempo que é empregue em cada uma.
“O maior trabalho é fazer o fio todo, tecer e fazer os acabamentos. Tudo isso leva muito tempo”, expressou, admitindo que esta é uma arte em vias de extinção.
“Não tenho nenhum familiar que queira aprender. Sempre fui doméstica, gostava e gosto ainda hoje do que faço, mas também nunca incentivei, nem quero incentivar, nenhum familiar a seguir este ofício”, manifestou.
“Além do trabalho que dá, não dá para viver apenas desta arte. É pouco rentável. Não chega para tirar um ordenado. ”, aludiu, sustentando que é, sobretudo, o reconhecimento das pessoas, pelo seu trabalho e as suas peças, que a fazem querer continuar a dignificar a lá e o seu ciclo.
“É uma tradição antiga, não deveria acabar, mas a tendência é para acabar. Fazer estes trabalhos já não há muito quem queira fazer. Nunca incentivei as minhas filhas a trabalhar nesta arte. Isto é um ofício que não tem futuro”, sublinhou, recordando que faz a Agrival desde 1988.
“Fiz muito tempo a feira na Escola Secundária de Penafiel, depois, com a construção do Parque de Feiras e Exposições, passei para aqui para este espaço, que tem melhores condições”, declarou ainda.
Além de Ana Moreira Mota, o Novum Canal falou, com Irene Mota Vieira, tecedeira, também, da freguesia de Peroselo, uma das artesãs mais antigas a fazer na Agrival, que recordou que aprendeu a tecer com a irmã de Ana Moreira Mota.
“Hoje já não há quem queira aprender. Os mais novos não querem trabalhar neste ofício porque estamos a falar de uma atividade trabalhosa, pouca rentável. Temos de trabalhar muito para se fazer algum dinheiro”, adiantou, confirmando que esta é uma arte em vias de desaparecer.
“Hoje só os mais idosos sabem tecer”, garantiu, sublinhado que enquanto conseguir irá continuar a participar na Agrival e valorizar esta tradição que é verdadeiramente um ofício antigo que faz parte da cultura e daquilo que são os usos e costumes do concelho e da região.