A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Entre-os-Rios celebrou, este domingo, o centenário, numa iniciativa que ficou marcada pela bênção de duas viaturas, pela inauguração de um monumento alusivo aos 100 anos, assim como as habituais condecorações.
O presidente da direção dos Bombeiros de Entre-os-Rios, José Pinheiro, em dia de aniversário, relembrou os que fundaram a instituição e todos os que, ao longo dos anos, deram o melhor de si em prol da associação.
José Pinheiro recordou que foi em 16 de junho de 1923 que “um grupo de corajosos homens decidiu dotar o lugar de Entre-os-Rios com um corpo de bombeiros para poderem responder às necessidades de socorro existentes, na altura”.
O responsável da direção dos Bombeiros de Entre-os-Rios, aludindo ainda ao passado ao legado histórico da instituição, enalteceu o trabalho dos antepassados, desde dirigentes, bombeiros, sócios, benfeitores, colaboradores.
Referindo-se à realidade atual, José Pinheiro enfatizou a necessidade de continuar a trabalhar em prol dos bombeiros e fazer face àquilo que são as adversidades e aos vários desafios com que a corporação está atualmente confrontada.
Neste domínio, o dirigente relembrou que sem a colaboração da comunidade, do tecido empresarial e demais instituições do concelho, o trabalho da associação estaria muito mais dificultado.
O comandante em substituição dos Bombeiros de Entre-os-Rios, José Filipe, relembrou o papel de todos que no passado, com “ousadia” no “longínquo ano de 1923, em 16 de junho, tiveram o arrojo de dotar o nosso concelho de um grupo de bombeiros que pudessem responder às necessidades de socorro no perigo daqueles que eram os seus semelhantes”.
“Não podemos deixar de homenagear todos os que sacrificaram as suas vidas em prol da instituição”, adiantou, relevando o trabalho dos diretores, benfeitores, associados, bombeiros e do quadro de honra.
O responsável pelo corpo ativo dos bombeiros relembrou que atualmente os bombeiros vivem momentos de um certo “desânimo e desalento”.
“Não podemos ser substituídos por ninguém. Os portugueses reconhecem o esforço dos bombeiros que respondem a milhares de pedidos de socorro”, expressou, tendo pedido ao Governo que sejam criadas melhores condições para os bombeiros.
“Refiro-me à implementação um sistema de incentivos ao voluntariado, mais apoios sociais, urge implementar um plano de reequipamento adequado para o cumprimento de um melhor apoio aos cidadãos. Os bombeiros têm outras missões para além dos incêndios florestais. Os corpos de bombeiros têm sido discriminados na obtenção de fundos comunitários de reequipamento de veículos, equipamentos e infraestruturas, sendo estas quase sempre inviabilizadas por não serem consideradas prioridades imediatas”, atalhou, defendendo maior apoio do poder central.
“Pois só com novas EIP será possível minimizar os efeitos dos incêndios”, acrescentou, enaltecendo o apoio da Câmara de Penafiel aos corpos dos bombeiros do concelho.
“É fundamental este apoio financeiro sem o qual não seria possível responder às mais de cinco mil ocorrências e sinistros registados em 2022”, manifestou.
O presidente da Câmara de Penafiel, Antonino de Sousa, referiu-se ao aniversário e ao centenário dos Bombeiros de Entre-os-Rios como um “marco histórico”, reconhecendo que é vital preservar a memória, os valores, os fundadores e demais agentes e atores que tiveram um papel fundamental na história da associação.
“Estamos a falar de uma instituição fundada há cem anos atrás graças ao arrojo e determinação de um conjunto de homens com o objetivo de defender a vida e o património das populações do sul do concelho, o que mostra a fibra desta gente. o sacrifício dos bombeiros. Não há proteção civil sem os bombeiros”, expressou, congratulando-se pelo facto desta corporação manter a sua matriz fundacional.
Antonino de Sousa reclama apoio para o voluntariado e para as corporações
O chefe do executivo penafidelense enfatizou, também, as dificuldades de gerir, hoje em dia, as associações, assim como o trabalho dos bombeiros e o voluntariado em momentos fundamentais da história do socorro, como a queda da ponte Hintze Ribeiro.
Antonino de Sousa relembrou, também, a estima que a autarquia tem tido para com os bombeiros e o voluntariado, nomeadamente com a implementação do regulamento dos apoios sociais aos bombeiros e seus familiares.
Referindo-se ao protocolo que foi assinado com o Ministério da Administração Interna, que irá criar três equipas de intervenção permanente nas três corporações do concelho, Antonino de Sousa admitiu que mais do que criar estas equipas, é fundamentar apoiar o voluntariado, revestir as corporações de equipamentos.
“Hoje há várias circunstâncias que tornam difícil o voluntariado e por isso teremos de criar mais incentivos para os bombeiros e para o voluntariado. Este é um protocolo para a criação de três, mas genuinamente acredito no voluntariado, mais do que criar equipas de intervenção permanente que podem vir a ser uma machada no voluntariado. Espero estar enganado, quero o melhor para os bombeiros, mas gostava mais de ver uma aposta forte no incentivo ao voluntariado nos bombeiros, no equipamento das corporações. É um património extraordinário que temos no país. As equipas de intervenção permanente são obviamente bem intencionados e iremos assinar este protocolo”, manifestou.
José Morais defende mais financiamento, criação de carreiras e investimento em equipamentos
O presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito do Porto, José Morais, aproveitou, para tecer algumas críticas ao Governo e enfatizar aquilo oque são algumas das adversidades e dificuldades com que os bombeiros estão confrontados.
“Falar de Entre-os-Rios lembra-nos as 59 vítimas da queda da ponte em 2021. Com apenas dez meses do exercício de funções como comandante participei nesta operação e deu para perceber a fragilidade do sistema da proteção civil. Muita coisa mudou, mas eis que passado 16 anos, igual tragédia nos assolou com 66 vítimas mortais, em 2017, em Pedrogão, pondo em causa todo o sistema de proteção civil. Criaram-se agências, planos, comissões, até os americanos opinaram sobre o assunto e agora somos nós que os vamos ajudar. Saúdo o esforço nas equipas de intervenção permanente, este modelo mitiga, mas não os resolve. Não existe uma carreira e as remunerações estão aquém”, expressou, relevando o trabalho da autarquia penafidelense no apoio social dado às corporações.
“É um dos exemplos maiores no país na regulamentação dos benefícios sociais aos bombeiros”, sublinhou, criticando o facto de nas sessões que a secretária de Estado da Proteção Civil fez no distrito não ter convidado a Federação dos Bombeiros do Distrito do Porto.
Falando daquilo que são as dificuldades com que se debatem as associações e os bombeiros, o financiamento, as carreiras e equipamentos, José Morais reconheceu que estes são problemas efetivos.
José Morais declarou, ainda, que o distrito do Porto é aquele que no país tem o maior número de veículos operacionais, com mais de 25 anos de serviço, estando completamente fora do período de vida útil.
“São exatamente 195 veículos e só uma associação no distrito do Porto foi contemplada no PRR, com um só veículo. Quando constatamos ficamos incrédulos. Esperamos que os novos apoios se venham a realizar na resolução da efetiva necessidade dos corpos de bombeiros. Os apoios em equipamentos de combate terão de surgir a curto prazo. O distrito do Porto não aceita o material que outras entidades não querem. É até incoerente que a Liga Portuguesa de Bombeiros tivesse apadrinhado esta disponibilidade de distribuição de equipamentos que os outros não quiseram”, frisou.
“Não devemos mais regredir e voltar ao passado”, manifestou, relembrando que urge criar uma academia que formar oficiais de bombeiros que possam estar numa base de recrutamento.
José Morais declarou que devem ser promovidos modelos eficazes de corpos de bombeiros.
“Estamos preocupados por tudo quanto se anuncia que possa ser o risco acrescido deste verão e com as recentes alterações ao modelo de organização operacional da autoridade. Passados seis meses de implementação, não vislumbramos que melhoria tem existido neste sistema. Temos esperança que isso possa vir a ser uma realidade”, adiantou, parabenizando os órgãos sociais pelos 100 anos.
“Os bombeiros são uma força de cariz eminentemente voluntário, imprescindível na nossa sociedade”, asseverou, sublinhando que é na comunidade que os bombeiros terão de encontrar as soluções para os problemas das associações humanitárias.
Secretária de Estado afirma que Governo está a investir nos bombeiros
Patrícia Gaspar associou-se aos que parabenizaram a associação pelos centenário, pelos valores e tudo que têm feito em prol dos Bombeiros de Entre-os-Rios, recordado que os bombeiros são “únicos” que marcam a vida de toda a comunidade.
“São 100 anos de história, de vida, de serviço público a uma comunidade e ao país”, afirmou, sustentando que a dimensão dos bombeiros não se limita à sua dimensão operacional, mas antes abrange a dimensão social.
A governante esclareceu que o sistema de bombeiros é único na Europa e no mundo, relevando a importância do voluntariado, a capacidade em acorrer às ocorrências de maior dimensão.
“Contudo, só o voluntariado não chega. Não há um único corpo de bombeiros em Portugal que viva apenas de voluntários. O socorro vai ter de se fazer desta convivência, que junta a matriz voluntária com a dimensão do profissionalismo”, atalhou, sublinhando que o país tem de ter uma capacidade de resposta que vai além do voluntariado.
“Este é um desafio de todos”, avançou, parabenizando a autarquia penafidelense por ter assinado um protocolo com o Ministério da Administração Interna para a constituição de três equipas de intervenção permanente.
“Há oito anos, o total de equipas não chegava à 150 equipas, quando, neste momento, é de 780 equipas. É um esforço que junta Estado central, as autarquias e as associações”, avançou, recordando que em 2023 o investimento ultrapassa os 60 milhões de euros.
“O mundo mudou, as ocorrências de maior dimensão vão ser mais frequentes e iremos sofrer o impacto destas situações. Em Portugal temos de estar orgulhosos do trabalho que estamos a fazer. Portugal é visto como um dos melhores exemplos de boas práticas na prevenção, no combate e na preparação. Temos de cerrar fileiras e manter o foco naquilo que é importante fazer. Os investimentos neste setor estão a dar frutos”, disse.
“Teremos de ter a resiliência para ver os resultados. Não podemos ignorar o que foi feito. Em 2023 aumentamos o financiamento aos corpos dos bombeiros, chegamos quase aos 32 milhões, mais sete por cento, investimos mais 30 milhões do Estado Central. Alocamos 20 milhões para os bombeiros, vamos alocar 81 veículos florestais para os bombeiros”, manifestou, sustentando que a distribuição dos veículos é feita com critérios mensuráveis e transparentes.
A secretária de Estado recordou que vão ser, ainda, atribuídos seis milhões para equipamentos de proteção individual, mais um milhão para a formação.
“Estamos a investir no reequipamento dos corpos de bombeiros. O quadro comunitário Portugal 2030, prevê mais 122 milhões para a área dos bombeiros e para a área do socorro”, precisou.