“Imagino que não esteja a ser um dia muito fácil para si”. Foram estas as palavras ironicamente dirigidas por Carlos Guimarães Pinto (Iniciativa Liberal) à ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, depois de, na audição parlamentar da Comissão de Administração Pública, Ordenamento do Território e Poder Local do passado dia 28 de setembro, requerida pelo PSD a propósito do estado do ordenamento do território, ter atacado a ministra de forma reprovável, ao confrontá-la inesperadamente com um assunto que não fazia parte da ordem de trabalhos.
Em causa, uma notícia do jornal Observador, na qual era referido que as duas empresas do marido de Ana Abrunhosa tinham beneficiado de milhares de euros em fundos comunitários quando a governante era já responsável pela tutela das Comissões de Coordenação e de Desenvolvimento Regional.
De um dia para o outro, o deputado da IL preparou, sub-repticiamente, uma intervenção que tinha como único propósito criar um pretexto para pedir a demissão da ministra. E assim, à importância de debater assuntos de extrema relevância para a nação, sobrepôs-se o vazio de ideias e o falso intelectualismo. É a estratégia do “vale tudo” patente nas políticas daqueles que, não tendo um projeto traçado para Portugal, recorrem ao que lhes possa servir de arma de arremesso contra quem está empenhado em trabalhar em prol do país.
Apesar de o parecer emitido pela Procuradoria-Geral da República ter determinado a não existência de qualquer ilegalidade na situação em que se viu envolvida Ana Abrunhosa (o próprio deputado liberal admite a legalidade do caso), não contesto uma eventual necessidade de se rever a lei em matérias que suscitem dúvidas em torno de questões éticas ou de conflitos de interesse envolvendo membros do Governo. Nem sequer me oponho a que o assunto pudesse ser levado a discussão numa outra audição. Isto porque defendo, acima de tudo, que os portugueses merecem saber a verdade e têm o direito de ter acesso às diferentes versões, opiniões e pontos de vista, pois só assim podem exercer uma cidadania plena, ativa e participativa. O que repudio é a subversão dos valores, dos interesses do país, dos meios para atingir os fins.
A solidariedade espontânea – se bem que irrefletida – da deputada do PS, Isabel Guerreiro, e a emoção não contida de Ana Abrunhosa contrastam com o ato premeditado de má-fé e a “honestidade” dissimulada de Carlos Guimarães Pinto. Ao líder “ideólogo” da IL – que chegou ao Governo ao mesmo tempo que eu – falta-lhe maturidade política, experiência parlamentar, humildade e ética. Falta-lhe perceber que há regras e limites no combate político, que este assenta no respeito pelo “adversário”. Falta-lhe entender que nem todas as pessoas podem ser doutoradas (como ele), mas que todas são igualmente dignas de consideração. E que o Parlamento é a casa da democracia aberta a todos.
À ministra Ana Abrunhosa, manifesto a minha solidariedade. Estou certo de que, apesar destes ataques vis, se manterá firme e continuará a dar o melhor de si ao nosso país.
Por: José Carlos Barbosa