Vários moradores de diversos empreendimentos sociais do concelho de Valongo participaram, esta terça-feira, no espetáculo “Corações que batem” que decorreu no empreendimento social do Barreiro, em Alfena, no âmbito do projeto “Unboxing Gender Stereotypes” (UGS).
O Projeto UGS é um “projeto pedagógico de carácter intergeracional que visa a desconstrução de estereótipos de género, a prevenção da violência e a promoção da Igualdade de Género, contribuindo, por um lado, para criar condições para uma educação e formação livres de violência”-
O projeto, tem, também, como objetivos combater “crenças erróneas, tantas vezes responsáveis pela dificuldade no pedido de ajuda e a aceitação de relacionamentos violentos”.
Liliana Beirão, psicóloga do projeto e membro da Associação Viver Alfena- AVA, realçou que o projeto encontra-se divido em duas fases, constituindo um mais-valia para a comunidade dos empreendimentos sociais, sendo direcionado para as populações mais vulneráveis.

“Avançamos com uma candidatura e o projeto foi aprovado. A primeira fase do projeto, que termina agora, decorreu em alguns empreendimentos sociais do concelho de Valongo, em que ao longo de quase seis meses, de forma lúdica e através da arte, muitas mulheres e homens foram empoderadas para reconhecerem os sinais e denunciarem situações de vitimação no contexto familiar, dando enfase ao pedido de ajuda e/ou manutenção de relações saudáveis e positivas”. Disse.
Liliana Beirão destacou que tentou-se que o projeto fosse “transversal ao ciclo da vida, mas incidindo na população mais envelhecida e com défices cognitivos, por serem grupos especialmente vulneráveis e que carecem de suporte ainda mais individualizado no reconhecimento e pedido de apoio”.

“Com o término desta fase, os moradores e moradoras foram convidados a dar voz ao tema através de um espetáculo que será apresentado publicamente”, disse, salientando que o projeto procura promover através da arte a inclusão social.
“Pretendemos desconstruir estereótipos e promover ações para a prevenção da violência doméstica”, adiantou, realçando que segunda fase, que começará em setembro, pretende capacitar pessoal docente e não docente das escolas do 1.º ciclo para a identificação precoce de situações de violência doméstica e no contexto familiar.

“No âmbito deste projeto trabalhamos numa fase inicial com os moradores dos empreendimentos sociais, estamos a trabalhar com seis empreendimentos do concelho de Valongo e de seguida iremos para as escolas do primeiro ciclo com objetivo de fornecer ferramentas para uma sinalização célere e eficaz. Com as crianças do 1.º ciclo, serão dinamizadas ações de sensibilização e promovidas atividades de carácter artístico que no final irão dar origem a um livro com textos e imagens originais criadas pelos alunos e alunas e ao Hino da Igualdade do município”, sublinhou.
Liliana Beirão declarou que com o término desta primeira fase, serão realizadas quatro sessões públicas, três delas nos empreendimentos sociais, por forma a dar visibilidade aos contextos em que estas pessoas estão inseridas.
“Procuramos juntos dos moradores dos vários empreendimentos recolher contributos e descortinar as áreas que estavam por trabalhar e em que urgia intervir”, explicou, insistindo que houve uma articulação com os moradores na definição e levantamento das necessidades e dos problemas sociais que foram, posteriormente, trabalhados e retratados.

“Cada empreendimento trabalhou um tema que foi refletido no espetáculo. Iniciamos o trabalho em fevereiro e conseguimos trabalhar o tema da violência doméstica e outros temas igualmente relevantes que importava analisar. É fundamental trabalhar com os moradores, mas, também, com as crianças, conhecer os seus anseios, os seus sonhos e as suas necessidades”, manifestou.
Rosa Ferreira, moradora no empreendimento social António Padre Vieira, na freguesia do Campo, em Valongo, relevou a importância deste projeto para os moradores e demais comunidade na prevenção de determinados flagelos que continuam a afetar a sociedade e estas comunidades.

“Estamos a falar de um projeto importante para os moradores. Eu própria fui alvo de violência doméstica, e para mim foi um desafio fazer parte deste casting e deste espetáculo. É fundamental que falemos destes temas, minimizando este flagelo e informando as pessoas dos seus direitos. Hoje a violência doméstica é um crime público e todos temos a obrigação de denunciar eventuais situações de maus-tratos que possam surgir”, expressou, salientando ser vital alterar atitudes e comportamentos no que toca a esta questão, promovendo uma maior informação junto dos mais novos.

“Tenho um familiar que também já estava a ser alvo de violência doméstica. Além da violência doméstica, importa trabalhar a questão da violência verbal. A violência não é desculpae não resolve absolutamente nada”, frisou, sustentando que gostava que este projeto tivesse continuidade e pudesse ser alargado a mais pessoas.
O projeto é promovido pela Associação Viver Alfena- AVA- e conta com o apoio da Câmara Municipal de Valongo.