A quadra da Páscoa é uma data marcante para a comunidade católica e para muitos cristão que, nesta altura, aproveitam para viverem de uma forma mais intensa, com a família e os mais próximos, aquele que é um dos momentos mais importante da fé cristã.
Acresce que este ano, a Páscoa irá regressar de uma forma presencial, com a comunidade cristã a poder acolher nas suas casas a visita pascal, embora, ainda, com algumas restrições, conforme anunciou recentemente, em comunicado, a Conferência Episcopal Portuguesa e a Diocese do Porto.
Com o objetivo de conhecer melhor esta fase importante na vida da Igreja e da fé dos cristãos, o Novum Canal entrevistou o pároco de Penafiel, Marecos e Milhundos, Padre Paulo Jorge, que é, também, Capelão da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel e Assistente Nacional do Centro de Preparação para o Matrimónio (CPM).
Falando das restrições que as famílias e os demais elementos que irão integrar as várias visitas pascais que vão decorrer um pouco por toda a região, o pároco deixou alguns conselhos, tendo em conta a situação de pandemia que ainda persiste, nomeadamente “no percurso na via pública, se houver ajuntamentos, recorrer à proteção da máscara facial” e “nas casas particulares entrarão apenas os membros do grupo paroquial designado para essa missão de anúncio pascal, conforme a organização de cada paróquia; os outros eventuais acompanhantes aguardarão no exterior”.
O responsável pela paróquias de Penafiel, Marecos e Milhundos relembrou a importância de dentro das casas, os membros desta equipa deverão usarem máscara”, salientando que o “guia do grupo dirigirá uma breve oração com a família reunida, terminada a qual os membros desta são convidados a venerar a cruz com uma vénia ou outro gesto que não implique contacto físico; seguidamente pode proceder-se à aspersão com água benta dos presentes e do lugar onde se encontram”.

Aludindo, ainda, às orientações a ter em conta no decorrer da visita pascal, a Conferência Episcopal Portuguesa já tinha advertido, em nota informativa, que partilhou no seu site oficial, para o facto de embora a mesa possa estar posta, “não se convidem para ela os membros do grupo dos mensageiros da Páscoa”.
A Conferência Episcopal Portuguesa reforça que a “partilha de alimentos deve restringir-se aos membros da família e, por isso, só se fará após a partida dos visitadores; de facto, o comer em conjunto implica retirar a máscara aumentando, assim, o risco de eventuais contágios”, esclarecendo que “sempre que haja contacto físico com pessoas ou coisas, deve proceder-se à higienização das mãos”.
O pároco Paulo Jorge, em declarações ao Novum Canal, destaca mesmo que existe efetivamente um desejo por parte dos paroquianos da sua vasta comunidade de voltarem a acolher a visita pascal nas suas residências.
“A celebração pascal que vem da quarta-feira de cinzas e termina com o Pentecostes tem sido bem acolhida pela comunidade”, disse, recordando que no concelho de Penafiel as tradições e os ritos associados a este tempo têm um cunho e uma matriz religiosa e até cultural bem vincadas.
“A primeira celebração teria sido na passada sexta-feira, cm a Procissão do Senhor dos Passos, não tivesse o São Pedro trocado as voltas com a chuva. Trata-se de um momento penitencial com forte cunho na cidade e tem ganho força. Bem diferente em termos de enraizamento é o Enterro do Senhor, uma Via Sacra com um cariz mais denso. As luzes públicas são desligadas, é um dos momentos altos das comemorações da Semana Santa e que marca a espiritualidade. A intensidade com que se vive este ritual é muito acentuada”, concretizou, concordando com a ideia de que existe uma vontade de voltar a recuperar os ritos associados à Semana Santa.
O pároco Paulo Jorge manifestou, por outro lado, que este ano as celebrações da Páscoa ficarão marcadas pela invasão da Ucrânia que provocou já inúmeras vítimas e deslocados.
“Penso que face ao que está a suceder a nível internacional ninguém pode ficar indiferente. Não que seja a única guerra no mundo, mas por estar às portas da Europa, continente que já não estava acostumado a estes tipo de conflitos. É evidente que vamos acabar por trazer esta realidade para a própria Páscoa, mas é importante dizer que há outras partes do mundo em que existem conflitos igualmente graves e que persistem e onde as dificuldades são sentidas de igual modo” disse.
Paulo Jorge relembrou, também, o gesto do lava-pés como um dos momentos emblemáticos da Semana Santa e desta quadra que simboliza a tal aproximação e comunhão de Deus através de Jesus Cristo quer reforçar.
“O gesto do lava-pés é um gesto de Deus em Jesus Cristo que desce até aos nossos pés para nos purificar e desse modo nos curar e chamar à comunhão consigo. É sinal de um Deus próximo e não esqueceu o sofrimento da comunidade ucraniana”, frisou, sublinhando que São Paulo não faz exceção de pessoas e a Igreja não pode viver de outro modo que não seja promovendo a inclusão.
O padre responsável pela comunidade de Penafiel, Marecos e Milhundos, questionado sobre o que nos propõe o anúncio da Ressurreição através da Visita Pascal, defendeu que esta quadra festiva representa para os cristãos uma ocasião para renascer a partir da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
“Para a comunidade cristã será sempre isto, mas este renascer, este ano, como referi, terá duas dimensões: a crise pandémica que ainda persiste e a guerra na Ucrânia. A Páscoa é um desafio que o próprio Deus nos coloca de a partir dele temos de renascer e recomeçar”, referiu.
Paulo Jorge relembrou as palavras do Bispo do Porto, D. Manuel Linda, na celebração do Domingo de Ramos, de que a “ternura de Deus está sempre connosco”, “uma Igreja próxima dos que choram, que tenta enxugar-lhes as lágrimas, dar-lhes pão e conforto” e que “as nações só conseguem dialogar quando deixam cair as armas das suas mãos”.
“Esta proximidade é, sobretudo, uma proximidade nas lágrimas e na dor porque quando está tudo bem não é difícil ser-se próximo. Esta é uma igreja que se quer fazer próxima dos que mais sofrem. Depois temos esta questão da paz que se constrói e isso é deixar cair as armas, mas existe também o direito à autodefesa. Se, por um lado, as armas são a causa da morte, podem ser também um instrumento da defesa. Teremos de encontrar um equilíbrio certo”, acrescentou, confirmando que a Igreja tem sido uma parte ativa no acolhimento e na prestação de cuidados aos milhares de cidadãos deslocados.
“O Papa já evidenciou que quer ir à Ucrânia, a nossa Diocese do Porto, através da Obra Diocesana, tem prestado apoio a vários ucranianos em Ermesinde, no concelho de Valongo. Há muitos cristãos na linha da frente neste apoio aos ucranianos. Conheço gente que deixou de ter vida própria para darem o peito às belas e com o seu humanismo cristão ajudar os ucranianos”, confessou.
Paulo Jorge recordou, ainda, a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2022, ao referir “não nos cansemos nunca de fazer o bem” corroborando com a necessidade de fazer o bem pelo bem, pela elevação do outro, e “promover a dinâmica do dom, o amor a justiça e a solidariedade”.