As descargas poluentes no Rio Ferreira foi o tema principal da intervenção e da moção apresentada pelo presidente da Junta de Freguesia de Lordelo, Nuno Serra, no XVIII Congresso Nacional da Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) que decorreu em Braga.
O autarca reiterou a necessidade de resolver um problema que rotulou de “crime ambiental” e que se arrasta há vários anos.
“Sou presidente da Junta de Freguesia de Lordelo sensivelmente há 10 anos e para quem não conhece é a terra onde se fabrica os melhores móveis em Portugal. Freguesias 2030 ambientalmente sustentáveis é este o titulo da moção que vos apresento e que é na realidade o “refresh” de uma outra que apresentei há cerca de dois anos no congresso de Portimão. Se há dois anos falar de sustentabilidade ambiental era pertinente, agora, torna-se imperativo exatamente pelos mesmos motivos e preocupações. Desde que sou presidente de junta que uma das minhas principais preocupações na freguesia prende-se comas descargas poluentes no rio Ferreira, uma linha de água que atravessa a freguesia, outrora um dos maiores rios truteiros da Europa, onde a maior parte dos lordelenses aprenderam a nadar e que, hoje, não é mas do que um esgoto a céu aberto”, disse.
Na sua intervenção, o autarca voltou a apontar o dedo a várias entidades pela “inação” relativamente à resolução em definitivo deste problema.
“Como se não fosse grave o suficiente, imaginem que as ditas descargas poluentes são provocadas por uma etar, uma estação de tratamento de águas residuais, construída para fazer exatamente o contrário daquilo que está a fazer. Ainda mais grave se torna quando a responsabilidade desta etar é da responsabilidade da Câmara de Paços de Ferreira, uma entidade com a obrigação de fiscalizar e de denunciar este tipo de crimes e acima de tudo garantir o funcionamento da dita Etar. É um crime ambiental que nos impede de usufruir do nosso parque de lazer, um espaço fabuloso e o pulmão da nossa cidade, onde investimos milhares de euros e onde pretendemos criar uma praia fluvial, projeto suspendo por razões óbvias”, expressou, apontando o dedo também, à “Agência Portuguesa do Ambiente, e Ministério do Ambiente e às pessoas responsáveis por estas entidades”.
Na sua alocução, o responsável pela Junta de Freguesia de Lordelo defendeu que os autarcas de freguesias são por definição os que melhor sabem enfrentar os problemas mais graves, colocando-se na linha da frente, com coragem e sem receios.
“É por isso que tenho dedicado de forma mais contundente às causas ambientais e não podia deixar de trazer aqui esta moção e este meu exemplo, alertando para os graves problemas provocados pela ação do homem, culminando naquilo que chamamos aquecimento global, com as consequências que se conhecem, sendo por exemplo, uma delas a seca extrema que tem assolado o país. Importante é referir que os autarcas de freguesias são por definição os que melhor sabem enfrentar os problemas mais graves, colocando-se na linha da frente, com coragem e sem receios, veja-se a crise sanitária e mais recentemente no apoio aos refugiados ucranianos”, sustentou, sublinhando que terão de ser os autarcas a avançar com medidas concretas, tendo como objetivo minimizar as alterações climáticas.
Nuno Serra defendeu, ainda, que a Anafre passe a liderar um processo conjunto promovendo iniciativas de escala em todas as freguesias do pais, evitando, assim, iniciativas avulsas que algumas freguesias vão implementando.
“Teremos de ser nós avançar com medidas concretas. Aquilo que se pede nesta moção é que a Anafre possa liderar um processo conjunto promovendo iniciativas de escala em todas as freguesias do pais, evitando iniciativas avulsas que algumas freguesias vão incentivando e bem, mas que sem os necessários apoios ou recursos se tornam inconsequentes. Pede-se assim que seja criado um plano para a sustentabilidade ambiental nas freguesias, que seja criado um grupo de trabalho que se foque neste trabalho de organizar o respetivo plano e que faça o acompanhamento dos projetos. Pede-se ainda que a Anafre faça junto do Governo e instâncias europeias as démarches necessárias para o financiamento dos projetos a implementar e o reforço das competências nas freguesias nestas matérias. Se queremos sair mais fortalecidos temos de ser mais pró-ativos nas políticas ambientais”, avançou.
Questionada esta tarde, no Emergente Centro Cultural, no Marco de Canaveses, à margem do auto de consignação da empreitada de ‘Reformulação da Estação de Tratamento de Águas Residuais da Ponte das Tábuas, sobre a situação verificada no Rio Ferreira, em Paredes, a secretária de Estado do Ambiente, Inês dos Santos Costa, admitiu, em declarações aos jornalistas, que poderá ser preciso outro tipo de tecnologias coadjuvantes no sentido de melhorar o rio e o sistema e sanar algumas dificuldades que possam existir.
“As Administrações de Região Hidrográfica têm estado sempre em contacto, estão sempre a monitorizar a situação e temos reportado conforme a situação vai evoluindo. Obviamente que, por vezes, existem questões técnicas que têm de ser trabalhadas, sejam elas relacionadas com os fornecedores técnicos de tecnologia, sejam elas relacionadas com os próprios técnicos que estão na operação, no local, no sentido de trabalharem soluções que possam melhorar as condições técnicas de tratamento”, afirmou.
“Os problemas existem sempre. Às vezes, quando arrancamos com o equipamento industrial é preciso afinar. Também é certo que muito provavelmente poderá ser preciso outro tipo de tecnologias coadjuvantes que possam melhorar o rio e o sistema no sentido de sanar algumas dificuldades que possam existir”, concretizou.