Empresa de comércio de madeira de Paredes corta relações comerciais com Rússia assim que iniciou invasão da Ucrânia

Com o escalar da guerra na Ucrânia têm sido várias as empresas e unidades empresariais, um pouco por todo o país, que optaram por cortar relações comerciais com fornecedores e clientes russos, na sequência da invasão da Rússia à Ucrânia.

Entre estas empresas está a Alfredo Nunes Correia Lda, uma empresa de comércio de madeiras, folhas de madeira e outros derivados, que conta com mais de 25 anos de presença no mercado.

O jovem empresário Rui Correia, da empresa Alfredo Nunes Correia, Lda, destacou, em declarações ao Novum Canal, que a decisão de cortar relações comerciais com Rússia foi implementada no próprio dia em que foi concretizada a Invasão da Ucrânia.

“A decisão de cortar relações comerciais com fornecedores e clientes Russos foi tomada no próprio dia em que foi concretizada a Invasão da Ucrânia por parte da Rússia”, disse, salientando que apesar das tensões existentes entre os dois países, estava longe de imaginar que a Rússia acabasse por invadir a Ucrânia, tal como veio a suceder.

Fotografia: DR

“Tínhamos conhecimento da escalada de tensão entre os dois Países, nomeadamente do incremento dos exercícios militares da Rússia junto da fronteira com a Ucrânia assim como da declaração de Independência das Regiões de Donetsk e Lugansk por parte do Regime de Vladimir Putin, que antecederam a Invasão. Ainda assim, não poderíamos imaginar que a Rússia decidisse invadir e atacar vilmente um território independente e soberano”, avançou.

Rui Correia confirmou que a decisão de manter este boicote é para manter até que o conflito termine.

O empresário avança, ainda, que a empresa não poderia ficar indiferente a este conflito e a esta invasão e assumiu que a opção de cortar as relações comerciais com os fornecedores e clientes russos foi implementada, também, por uma questão moral para com a comunidade ucraniana e as vítimas desta guerra.

“Tomamos esta decisão por uma questão moral e de responsabilidade social, mesmo sabendo que os nossos fornecedores e clientes Russos são empresas privadas que não têm responsabilidade no conflito. Esta medida terá um impacto muito considerável para a nossa empresa. Para além de uma perda direta estimada de aproximadamente 500.000 euros/ano – referente a exportações não realizadas -, prevemos um impacto ainda mais significativo em consequência da opção por não importar madeira e derivados do mercado Russo. De facto, da Rússia, essencialmente, importávamos em grande quantidade madeira contraplacada que era maioritariamente escoada para clientes Nacionais, nomeadamente para empresas do setor do mobiliário e carpintaria. O mercado deste produto está perfeitamente desenvolvido pela nossa empresa, possuindo o mesmo uma aceitação e uma procura muito consideráveis, sobretudo pela sua durabilidade e resistência, o que torna muito difícil encontrar substitutos”, disse, sublinhando que a “Alfredo Correia prevê uma perda de faturação de aproximadamente dois milhões de euros, resultante da não importação destes produtos”.

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Questionado se considera que o setor do mobiliário irá ressentir-se desta guerra e das sanções, entretanto, implementadas pela União Europeia, Rui Correia manifestou não restarem dúvidas que a cadeia de valor do mobiliário e fileira casa onde, de resto, a empresa se insere, irá ressentir-se com este conflito.

“Não restam dúvidas que toda a cadeia de valor do mobiliário e fileira casa onde, de resto, nos inserimos, irá ressentir-se com este conflito. A Rússia e a Ucrânia são dois países que possuem recursos naturais de excelência para a Indústria da Madeira e afins. Por um lado, da Rússia é importada madeira contraplacada, tal como referi acima. É expectável que sejam impostas sanções à importação deste e de outros produtos, o que resultará em aumentos consideráveis de preço e originará a necessidade de procurar produtos alternativos. Importa referir que a madeira contraplacada de origem Russa é um produto que já se encontra sob sanção imposta pela Comissão Europeia, desde o ano passado, por suspeitas de alegada prática de Dumping por parte de produtores Russos. No entanto, apesar do brutal aumento do preço do produto em resultado da sanção imposta, da sanção não parece ter resultado qualquer quebra da quantidade importada, pelo menos para o Mercado Português”, acrescentou.

“ Este dado atesta a importância deste produto e a dificuldade em substituí-lo. Por sua vez, a Ucrânia é uma das origens preferenciais de Madeira de Carvalho que é, sem margem para dúvida, a espécie com maior procura em Portugal e nos restantes países Europeus. A mais do que expectável incapacidade das Empresas Ucranianas fornecerem Madeira de Carvalho proporcionará uma corrida a outras origens, intensificando ainda mais a pressão da procura sobre a oferta – que, diga-se, ainda não normalizou desde o início da Pandemia – daí resultando, inevitavelmente, preços mais elevados para os distribuidores e transformadores e, consequentemente, para as Indústrias de Mobiliário”, referiu, ainda, o jovem empresário.

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Rui Correia esclareceu que além dos impactos nos preços da madeira e derivados, o “setor do mobiliário também deve contar com a escalada do preço da energia e com a expectável quebra da procura nos mercados Russo e Ucraniano, que não sendo os mais representativos, têm razoável importância nas exportações Portuguesas do Setor. Adicionalmente, é expectável o reposicionamento da concorrência estrangeira com maior exposição a esses Mercados, que poderão tentar colmatar as quebras procurando mercados mais seguros, como os Países da Europa Ocidental, onde as Empresas Portuguesas exportam mais”.

Interpelado se defende que outros empresários devem seguir o mesmo exemplo, o empresário reconheceu que “este corte de relações comerciais, conjugado com as sanções impostas pela União Europeia e outros países, poderá provocar um choque económico muito importante para a Rússia, levando à impopularidade da guerra entre a população em geral e, particularmente, dentro da oligarquia Russa, que domina os setores mais afetados pelas sanções e bloqueios comerciais. Naturalmente, quanto mais empresas tomarem esta atitude, maior força terá este choque e mais provável será que produza o efeito desejado por todos – o fim da Guerra”, confessou.

Sobre se teme que o conflito se possa agravar e estender a outros países, o empresário precisou que esse receio aumenta com o aproximar das fronteiras da NATO.

“O receio de um alargamento do conflito existe e quanto mais se aproximar das fronteiras da NATO, maior a probabilidade de um qualquer pequeno incidente provocar um confronto direto da Aliança Atlântica com a Rússia. Ainda assim, não acho provável nesta altura e quero acreditar que as Sanções impostas pelo Ocidente serão forças dissuasoras capazes de levar ao término do Conflito”.

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Refira-se que A Alfredo Nunes Correia Lda é uma empresa de comércio de madeiras, folhas de madeira e outros derivados, que conta com mais de 25 anos de presença no mercado, tendo como principal atividade a compra de troncos de madeira e subcontratação da produção dos mesmos em Folha de madeira.

A Alfredo Nunes Correia, Lda. exporta para 16 países: Alemanha, Áustria, Bélgica, China, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estados Unidos da América, França, Grécia, Hungria, Itália, República Checa, Rússia, Suiça e Ucrânia.

A empresa tem como clientes empresas do setor do mobiliário, carpintarias, produtores de painéis decorativos em madeira e de outros setores ligados à “fileira casa”, assim como revendedores/grossistas de madeiras e derivados.

Esta unidade empresarial integra 15 colaboradores.