Vários municípios que integram a Rede de Municípios para a Adaptação Local às Alterações Climáticas(adapt.local) estiveram reunidos, esta sexta-feira, na Casa da Calçada, em Amarante, no âmbito do 5.º seminário adaptação local às alterações climáticas, iniciativa que contou, também, com diversas entidades públicas e privadas que trabalham na área do clima e da adaptação às alterações climáticas.
Adiado duas vezes por causa da pandemia, este seminário conta com a presença de vários especialistas nacionais e internacionais em adaptação às alterações climáticas, aos quais se vão juntar os responsáveis e técnicos das autarquias de vários pontos do país, para abordar um vasto conjunto de temas-chave.
Além dos desafios da adaptação climática local, em Portugal e na Europa integram este seminários temas como a “Adaptação climática setorial, nas áreas da floresta, água e orla costeira; Missão ‘climate adaptation’; e, Iniciativas futuras para a adaptação às alterações climáticas”.
O presidente da Câmara de Amarante, José Luís Gaspar, que presidiu à abertura do seminário, realçou a importância deste tema e do envolvimento dos agentes e atores locais no combate às alterações climáticas.
Falando daquilo que são as preocupações do município no domínio do ambiente, o chefe do executivo municipal realçou que estas são transversais ao todo nacional.
“Amarante está muito próximo da serra do Marão e da Aboboreira, nas últimas décadas temo-nos deparado com cada vez mais incêndios, devastação dos terrenos e isso é uma real preocupação que temos aqui, um verdadeiro drama que nos leva a ter preocupações acrescidas nesta matéria e temos tido como prioridade e preocupação a reflorestação com espécies autóctones, permitindo que seja possível minorar e minimizar o impacto ambiental que os incêndios provocam”, avisou.
José Luís Gaspar além da questão dos incêndios e da reflorestação apontou a questão dos rios e a preservação dos seus ecossistemas como sendo também uma das prioridades do município.
“Amarante tem vários percursos de rios, existem um conjunto de situações que têm a ver com a sua contaminação, dos solos freáticos, os químicos que são usados na agricultura. Neste âmbito temos feito uma sensibilização para alertar os cidadãos para a necessidade de salvaguardar estes ecossistemas, mas este é um trabalho que tem sido feito de uma forma gradual. Não dá para mudar práticas e comportamentos de um dia para o outro, mas tem que existir uma persistência e as autarquias e outras entidades têm feito, também, um trabalho nesse sentido”, expressou, apontando, também, para a questão da poluição do ar das cidades que é hoje uma realidade em várias localidades.
“A partir desta sexta-feira teremos um novo regulamento para a postura de trânsito, tentado evitar, através da realização de todo um investimento, nomeadamente da construção de novas pontes, para que haja uma melhor circulação na cidade. Hoje temos procurado minorar o impacto e aos fins-de-semana e aos feriados vai deixar de haver trânsito. Isto também é uma forma de habituarmos as pessoas a andarem mais a pé, recorrerem ao uso da bicicleta e a outros meios de forma a que possamos diminuir a pegada ecológica. Por outro lado, estamos a tentar sensibilizar os munícipes a percorrer os trilhos das Azenhas e dos Castanheiros que ficam junto ao Tâmega. Temos um projeto para a construção de uma ciclovia, ligando a ecopista a um outro centro urbano que temos em Vila Meã e a Lousada”, afirmou, aludindo, também, à necessidade de apostar em edifícios cada vez mais sustentáveis.
“Este é um desafio que se irá colocar neste quadro comunitário. Compete-se a todos nós fazer um esforço naquilo que é a sustentabilidade dos nossos edifícios e apostar em energias alternativas. Este é o caminho que temos de fazer”, acrescentou.
Falando dos instrumentos financeiros que estão disponíveis para fazer face aos desafios com que os municípios estão confrontados ao nível das alterações climáticas, o responsável pelo executivo municipal confirmou que falta ainda a redefinição do Portugal 2030 e perceber quais as indicações do Programa de Recuperação e Resiliência e até no overbooking, na sequência da atual conjuntura internacional e do escalar da guerra na Ucrânia.
“O mundo está a braços com uma guerra que nos aflige a todos e que muitas vezes recentra a discussão política noutro patamar que não aquele que vinha a ser feito. Estamos, neste momento, expetantes, mas é preciso abrir avisos, por exemplo, na área energética, a questão da sustentabilidade dos edifícios e na instalação dos painéis fotovoltaicos, de forma a tirarmos partido das excelentes condições meteorológicas que o país tem para oferecer”, avançou.
O autarca relevou, também, a importância das autarquias articularem esforços com as instituições científicas e as universidades no combate às alterações climáticas.
“Estamos em articulação com a Universidade de Trás-os-Montes, o IPP e é nossa vontade com a Universidade do Minho trabalhar algumas situações, nomeadamente que têm a ver com o setor tecnológico até porque temos um plano que tem a ver com a indústria transformadora, na incorporação da tecnologia e no setor tecnológico, sendo nossa vontade termos um centro tecnológico em Amarante. Cada vez mais os municípios têm que fazer uma estreita ligação com o conhecimento, com as universidades e outros conhecimentos que existem”, avançou.
O presidente da Rede ‘adapt.local’, Vítor Aleixo, referiu que a Rede ‘adapt.local’ integra além dos municípios, instituições de ensino superior, centros de investigação, organizações não-governamentais e empresas, tendo como propósitos “dinamizar a adaptação local às Alterações Climáticas em Portugal”.
“Não é possível pensar a ação climática local sem um forte contributo de várias áreas científicas. Hoje estamos confrontados com fenómenos extremos e para fazer frente a estes fenómenos urge fazer um trabalho conjunto e contar com o esforço de todos os parceiros e entidades”, sublinhou, realçando que existem ferramentas para fazer face aos novos desafios, existem estratégias para a descarbonização e noutros domínios.
“Existem novas políticas para a reflorestação, de proteção dos ecossistemas, preservação da biodiversidade. Existem políticas de acordo com muitos eixos que estão a ser materializadas em políticas autárquicas locais que começam a surgir um pouco por todo o país Esse é o trabalho do Governo, da rede e de outros parceiros. Os avisos têm de ser abertos para implementar soluções no terreno”, atalhou, reiterando que a ciência tem cada vez mais um papel relevante na mitigação das alterações climáticas.
“Necessitamos de biólogos, engenheiros do ambiente, engenheiros de hidráulica, botânica e físicos, entre outros especialistas”, concordou, reiterando que o PRR é um instrumento vital no combate às alterações climáticas.
“O PRR abre várias possibilidades para podermos atacar as alterações climáticas. A nova política de habitação tem de ser conceptualizada e materializada em termos novos no âmbito do PRR, em que se privilegia o conforto térmico e a racionalização da energia como um ponto nevrálgico dessa nova política de habitação”, relembrou.
Antes do seminário, esta quinta-feira, dia 17, realizou-se a Assembleia Geral Constitutiva da adapt.local, aquele que será o primeiro momento da formalização da Rede ‘adapt.local’ enquanto associação de direito privado sem fins lucrativos.
Constituída em 2017, a Rede ‘adapt.local’ conta com mais de 30 câmaras municipais associadas, além de diversas entidades públicas e privadas que trabalham na área do clima e da adaptação às alterações climáticas.