Reportagem: Barbearias acumulam despesas e prejuízos. Operadores dizem ter condições para reabrir

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São cada vez mais os barbeiros que temem pelo futuro dos seus estabelecimentos e pelo futuro do setor. Com o confinamento, a prorrogação do Estado de Emergência e as respetivas restrições, foram vários os responsáveis por barbearias que traçaram um cenário de dificuldades a manter-se o atual quadro.

Os mesmos revelaram à nossa reportagem disporem das condições que foram definidas pela Direção-Geral de Saúde, cumprirem com todas as diretrizes que foram estabelecidas e reabrir no imediato, sob pena  do setor continuar a definhar.  

César Mendes, barbeiro  na Barbearia Amadeu, uma das mais antigas na cidade de Paredes, localizada paredes-meias com a estação do caminho de ferro, confirmou que a situação é deveras difícil, assumindo que com o encerramento das barbearias, os operadores deixaram de poder trabalhar, há muito que não têm clientes, mas as despesas continuam a ser pagas.

“É uma situação difícil. Já no ano transato tivemos que encerrar portas e este ano voltamos a ser novamente atingidos pela crise sanitária e pelas restrições que o Governo implementou com encargos acrescidos, uma vez que deixamos de poder atender os clientes, as despesas não cessam, são mensais e os prejuízos acumulam-se”, disse, sustentando que está sem trabalhar desde 14 de janeiro, há praticamente dois meses, admitindo que esta é uma situação penosa para quem trabalha nas barbearias, cabeleireiro e também salões de estéticas, sem um desfecho à vista.

“Apesar dos indicadores da Direção-Geral de Saúde serem positivos, os números  que têm sido publicados apontam  para uma descida de vários indicadores, há vários dias, a verdade é que não sabemos quanto é que estes estabelecimentos irão reabrir”, frisou, mostrando-se convicto que quer o Governo quer o Presidente da República possam ser sensíveis aos argumentos que têm sido esgrimidos e apresentados pelas associações do setor que defendem a reabertura destes espaços.

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César Mendes confirmou que este é um setor específico e com características especiais, uma vez que vive do contacto com o cliente e ao contrário do que sucede com outras áreas, que se reinventaram e foram para o online, nas barbearias isso não é possível acontecer.

Ao Novum Canal, o jovem barbeiro defendeu uma reabertura imediata destes espaços, sustentando que todos os utensílios e equipamentos utilizados no seu espaço estão devidamente desinfetados, sempre cumpriu com o encerramento obrigatório, tendo adotado uma atitude  responsável.

Falando das regras em funcionamento na Barbearia Amadeu, este profissional confirmou, ainda, que o estabelecimento funciona por marcação, não existindo quaisquer ajuntamentos.

César Mendes manifestou que apesar de manter-se sem trabalhar, tem procurado manter um contacto com os seus clientes mais próximos, sendo muitas vezes solicitado por estes quando é que irá reabrir.

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“Todos me perguntam quando é que vou reabrir.  Para já estamos todos dependentes das decisões das autoridades portugueses. A expectativa  e que isso possa suceder a curto prazo, mas para já teremos de aguardar, ainda que considere que nunca deveríamos ter encerrado. Dispomos das condições para laborar”, expressou, reconhecendo que esta  situação a prolongar-se tornar-se-á insustentável com consequências para muitos espaços, mas também no que toca aos empregos.

“No meu caso, partilho um espaço com um outro colega, tenho as minhas despesas, sou trabalhador independente, fiz um investimento inicial no meu material, mas haverá situações seguramente mais graves, em que os investimentos foram significativos. Sem clientes, não conseguimos arcar com as despesas e pagar as contas”, acrescentou.

Luís Ribeiro, da Barbearia Central, situado junto ao Parque José Guilherme, mostrou-se igualmente preocupado com o cenário atual, defendeu a reabertura  imediata dos estabelecimentos que cumprem com as regras que foram definidas e uma maior fiscalização.

Luís Ribeiro reconheceu, também, que a manutenção da atual situação está a tornar-se difícil de suportar, tendo avançado que o seu estabelecimento cumpre com os critérios das autoridades de saúde.

O responsável pela Barbearia Central precisou, ainda, que o seu espaço dispõe do dístico O Seu Espaço Seguro, um selo que comprova e confirma que o estabelecimento cumpre com as regras, que zela pela segurança e saúde dos clientes.

Albino Ferreira, da Barbearia Sameiro,  alinhou pela mesma bitola, no que toca à reabertura imediata das barbearias.

Ao Novum Canal, o proprietário da Barbearia do Sameiro reconheceu que os prejuízos são imensos, as despesas são mensais, e que urge inverter a atual situação, permitindo que estes estabelecimentos possam voltar a funcionar.

Albino Ferreira confirmou, também, que o seu espaço cumpre com todos os procedimentos e diretrizes que foram definidos pelas autoridades de saúde, manifestando que o setor está a passar por sérias dificuldades, foi posto à prova, mas torna-se difícil manter a atual situação.

Miguel Garcia, presidente da Associação Portuguesa de Barbearias, Cabeleireiros e Institutos de Beleza, reconheceu, em declarações ao Novum Canal, que o setor vive uma situação catastrófica.

“O setor encontra-se numa situação catastrófica dado que o mesmo é constituído, em grande escala, por micro empresas em que os empresários investiram avultadas quantias para abrir e dinamizar os seus negócios. A abertura de um estabelecimento quer de cabeleireiro, barbearia e estética requer um investimento inicial considerável quer em relação a obras de adaptação dos espaços (instalações sanitárias, rede de água, de esgotos e instalações elétricas especificas) e a manutenção e renovação dos mesmos, acompanhando as tendências ao nível da moda com o propósito de fidelizar e captar clientes num mercado muito concorrencial. Essa renovação tem incidência, também, a nível dos utensílios e equipamentos utilizados neste setor dos cuidados pessoais”, disse, salientando que para além deste investimento contínuo foi necessário, “a fim de abrir após o primeiro confinamento, um avultado investimento em aquisição de materiais, produtos e equipamentos de higienização e desinfeção e de adaptar os espaços às novas regras impostas pela DGS”.

O responsável pela Associação Portuguesa de Barbearias, Cabeleireiros e Institutos de Beleza realçou que as perdas são inúmeras e que há estabelecimentos com dificuldades.

“ Verificou-se que no primeiro desconfinamento cerca de 20% (vinte por cento) dos estabelecimentos acabaram por não reabrir, com especial incidência, nos dos grandes centros urbanos, nos mais antigos e com uma clientela mais idosa. Os que se mantiveram abertos, depois de um mês e meio de euforia, devido à necessidade de recorrer aos serviços prestados, registaram uma quebra de volume de trabalho motivada quer pela perda de rendimentos das suas clientes, quer pela alteração dos seus hábitos e ritmos de frequência na deslocação aos estabelecimentos, quer pela obrigatoriedade de teletrabalho, quer pela ausência de eventos sociais, etc…Os estabelecimentos dos cuidados pessoais partiram para este novo confinamento com uma situação muito mais fragilizada do ponto de vista económico e o fato de o mesmo se estar a verificar mais prolongado afetará, de forma profunda, a sobrevivência de mais de 50% dos estabelecimentos deste setor que ou acabaram por encerrar ou acabaram por equacionar os seus quadros de pessoal e dimensionar os mesmos às suas necessidades (despedindo pessoas). Teremos, também, que registar que os apoios concedidos – APOIAR. Pt ( (com a dotação esgotada) e o APOIAR Rendas – na forma como foram concebidos e nos requisitos exigidos excluem muitas empresas e empresários”, acrescentou.

Miguel Garcia referiu, ainda, que “os estabelecimentos do setor dos cuidados pessoais, dado a prestação dos serviços essenciais que prestam e as condições em que os prestam, com todos os cuidados higiénico-sanitários e em respeito por todas as normas impostas pela DGS nunca deveriam ter sido encerrados”.

“Deveriam ter sido incluídos nas exceções. Não houve noticia de quaisquer focos de contágio em qualquer estabelecimento deste setor”, atalhou.

“As Associações e Clubes Artísticos, antes do início do confinamento, fizeram essa solicitação ao Governo salientando esse caracter essencial solicitando a sua inclusão dento dos cuidados de saúde e bem estar. Não fomos atendidos nessa pretensão mas quando insistimos no encerramento dos estabelecimentos que têm a revenda de produtos profissionais que deveriam ser, apenas, vendidos aos profissionais a resposta é que esses bens são essenciais para a população em geral e como tal as mesmas não poderiam ser privadas dos mesmos. Ou seja, a prestação dos serviços dos cuidados pessoais não é essencial mas os produtos que só devem ser manuseados por profissionais qualificados (dada a sua especificidade e perigosidade de um manuseamento indevido) foi considerada essencial”, garantiu.

O presidente da Associação Portuguesa de Barbearias, Cabeleireiros e Institutos de Beleza defendeu, por outro lado, que estabelecimentos reúnem as condições e cumprem com as regras definidas pelas autoridades de saúde para reabrirem.

“Todos os estabelecimentos para estarem abertos são obrigados a cumprir as regras impostas pela DGS para o seu funcionamento sob pena de aplicação de graves coimas. A fim de haver uma exteriorização desse cumprimento e de firmar esse compromisso nasceu o projeto #oseuespaçoseguro. Esta iniciativa teve como objetivos, reforçar a confiança das clientes, de demonstrar e reafirmar, de forma pública e visível, o compromisso dos espaços de beleza no cumprimento de todas as regras de higiene e segurança, implementadas pela Direção-Geral de Saúde. Dado que a campanha foi direcionada para o consumidor final foi criado um KIT ESPAÇO SEGURO: os espaços aderentes estão identificados através de um dístico visível do exterior do estabelecimento, um manifesto explicativo do empenho e dedicação dos profissionais quer à sua arte quer à defesa da segurança e saúde das suas clientes, a ser afixado no interior do estabelecimento, bem como três dísticos para afixar nas bancadas”, confessou.