Fotografia: Rui Guedes
“Traço Contínuo” assim se intitula a mais recente obra de Rui Guedes, com desenhos de Daniel Oliveira, que é, esta quinta-feira, apresentada, pelas 18h00 no IPI -Instituto Plural de Interior – Av. Zeferino de Oliveira, em Penafiel
Ao Novum Canal, o autor realçou que “Traço contínuo é a compilação de contos e crónicas escritas ao longo dos últimos meses. É uma incursão na literatura para o público adulto e um aglomerado de textos numa pasta do computador, sem que nunca houvesse existido a intenção deliberada de os publicar”, disse, salientando que a ideia para avançar com a obra surgiu na sequência de ter conseguido reunir, num só documento, cerca de setenta textos, o que o fez despertar que compilação desses textos poderiam resultar num livro.
“O escritor argentino Jorge Luís Borges dizia que “a melhor forma de nos livrarmos de um texto é publicá-lo”. Depois de uma tarde a reunir, num só documento, cerca de setenta textos, apercebi-me que poderia resultar num livro. Curiosamente, e por coincidência, apesar de serem independentes, sem qualquer tipo de relação entre eles, parece existir uma cadeia que os interliga e estabelece o fio condutor que orienta o leitor ao longo da obra. Todavia, o livro permite que seja o próprio leitor a escolher por onde começar a sua leitura. “Traço contínuo” é um convite a ultrapassar a sequência de paginação, a ser folheado através da sua desordem natural”, frisou.
Falando do tempo que demorou a executar a obra, o autor reconheceu que foi relativamente fácil compaginar os textos, abrangendo a obra um espaço temporal que vai desde 2016 a 2019.
“Reunir os textos foi, como referido anteriormente, um processo relativamente rápido. O tempo que demorou a serem escritos os textos vai desde 2016 a 2019, período onde, entretanto, lancei os meus dois primeiros livros para o público infantil: “Ri o Joaquim com cócegas assim…” (2016) e “Ao fundo da minha rua… 3 contos” (2017)”, afirmou, sustentando que o livro tem 155 páginas.
Referindo-se à parceria com Daniel Oliveira, que nesta obra assina os desenhos, Rui Guedes declarou que já o conhecia há alguns anos o que lhe permitiu conhecer melhor a visão artística e facilitou o trabalho nesta obra.

“Já conheço o Daniel Oliveira, por motivos profissionais, há já alguns anos. Tinha tido a oportunidade de colaborar em eventos onde interveio como organizador. Fui adquirindo, aos poucos, o conhecimento da perceção e visão artística do Daniel Oliveira, e o convite para a autoria dos desenhos surgiu naturalmente. Não sendo uma ideia original, o traço de arquiteto oferece ao leitor uma perspetiva simples, sem ser simplista. Tive o cuidado de deixar ao critério do Daniel Oliveira o enquadramento dos desenhos em alguns textos, precisamente para que prevalecesse essa perspetiva”, sublinhou, sustentando que a parceria com o Daniel Oliveira para trabalhos futuros é sempre uma possibilidade em aberto, o mesmo acontecendo em relação a outros ilustradores com quem o autor venha a trabalhar.
“Essa possibilidade existe sempre em relação ao Daniel Oliveira como a qualquer ilustrador que tenha colaborado, ou venha a colaborar, em trabalhos anteriores ou futuros. Neste momento, creio que o mais importante é desfrutarmos deste trabalho que hoje apresentamos e, só depois, pensar em novos projetos”, confessou.
“Procuro, acima de tudo, criar elementos concretos que permitam ao leitor identificar a minha escrita. Levar-lhe as palavras criando um estilo único, recorrendo à adjetivação e à musicalidade na construção do texto”
Questionado sobre como definiria este trabalho, Rui Guedes explicou que o “livro é a definição pessoal da paixão pelos elementos do quotidiano: pessoas, trabalho, objetos, família”.

“É “deixar a nu”, sem qualquer complexo, o processo evolutivo de um escritor, com as suas lacunas, dúvidas e erros. Essencialmente, os erros. Tive a oportunidade de corrigir/alterar alguns textos escritos num período mais distante, mas essa intenção de demonstrar a evolução da minha escrita prevaleceu. O livro é a definição pessoal da paixão pelos elementos do quotidiano: pessoas, trabalho, objetos, família. Saber ver e saber escutar, auscultando o ambiente que me rodeia e transportando-o para situações vividas ou, simplesmente, criadas num determinado contexto de tempo e de espaço”, asseverou, confirmando que como autor é seu objetivo “manter um propósito evolutivo contínuo, sem deixar de ousar experimentar outros estilos literários, como a poesia”
“Procuro, acima de tudo, criar elementos concretos que permitam ao leitor identificar a minha escrita. Levar-lhe as palavras criando um estilo único, recorrendo à adjetivação e à musicalidade na construção do texto. Pretendo, enquanto autor, manter um propósito evolutivo contínuo, sem deixar de ousar experimentar outros estilos literários, como a poesia”, atalhou.
Sobre o “feedback” que espera obter do público, Rui Guedes assumiu que escreveu este livro para levar o leitor a referir sobre algumas questões que, no dia-a-dia, nos passam despercebidas.
“Espero que seja positivo. Escrevi estes contos e crónicas com o intuito de fazer o leitor mergulhar em algumas questões que, no dia-a-dia, nos passam a todos despercebidos, e, muitas vezes, determinam o nosso comportamento enquanto membros da sociedade. Algumas pessoas já adquiriram o livro por via das plataformas online, tendo tido já reações bastante positivas acerca do seu conteúdo e da sua componente gráfica”, precisou, salientando que as suas próximas incursões tendem a aproximar-se do texto poético.
“Tenho tentado aproximar-me do texto poético, e pretendo trabalhar no sentido de publicar, futuramente, algo dentro desse género literário, apoiado, quem sabe, por um elemento gráfico com o qual ainda não tenha trabalhado, como a fotografia”, admitiu.
“Enquanto escritor, e profissional responsável por um equipamento cultural, senti diretamente os efeitos do encerramento dos espaços onde exerço a minha atividade profissional e onde tinha agendado sessões de apresentação do livro”
Pronunciando-se sobre o os efeitos da pandemia Covid-19 na área da cultura, o autor reconheceu que as medidas que levaram ao encerramento dos espaços culturais por razões de segurança, criaram um efeito dominó em todo o setor da cultura e nas variantes a ele associadas.
“O período de confinamento, e todas as medidas que levaram ao encerramento dos espaços culturais por razões de segurança, criaram um efeito dominó em todo o setor da cultura e nas variantes a ele associadas. Falo dos artistas, que são a face visível da questão, e de todas as equipas que fornecem o suporte técnico à produção de eventos culturais. Enquanto escritor, e profissional responsável por um equipamento cultural, senti diretamente os efeitos do encerramento dos espaços onde exerço a minha atividade profissional e onde tinha agendado sessões de apresentação do livro. Acredito que este meu testemunho contribui para responder à questão e, simultaneamente, dar a entender a dimensão do problema numa escala local, nacional e, porque não o dizer, mundial”, adiantou, confirmando existirem sinais que estão a permitir a retoma de algumas atividades programadas.
“Vão sendo adotadas, de forma gradual e em consonância com as diretrizes das autoridades de saúde, algumas medidas que estão a permitir a retoma de algumas atividades programadas. Cabe a cada um dos intervenientes, seja ele público, técnicos ou artistas, a responsabilidade de permitir, ou não, através do seu comportamento, a retoma das agendas culturais, tendo todos parte ativa na vigilância e identificação de comportamentos que ponham em risco o regresso, o mais rapidamente possível, à nova normalidade”, anuiu.
Já quanto a ser favorável à existência de mais apoios ao setor da cultura, Rui Guedes precisou que esta questão antecede a chegada da pandemia.
“A questão dos apoios ao setor da cultura não chegou com a pandemia. É algo que faz parte da discussão desde há muito tempo. Existem iniciativas que vêm minimizando o impacto dessa falta de apoio, permitindo mais oferta cultural em locais mais afastados dos grandes centros urbanos. As autarquias tornaram-se nos principais promotores de eventos de caráter cultural, e Penafiel é disso um excelente exemplo. Haja mais autarquias a segui-lo”, concretizou.