Ana Isabel Silva, fundadora da plataforma Quarentena Académica, fez um balanço positivo o protesto realizado esta quinta-feira, em várias universidades e politécnicos do país, pela defesa dos estudantes do ensino superior e por melhores condições.
“O balanço do protesto é extremamente positivo. Conseguimos ter cobertura mediática suficiente para colocar os problemas do ensino superior na agenda pública e o número de queixas estudantis que nos têm chegado têm aumentado exponencialmente, significando que estes estudantes se sentiram representados pela plataforma Quarentena Académica. A parte negativa foi que, as medidas anunciadas depois do conselho de ministros, não incluíam medidas para propinas, ação social ou apoio à saúde mental”, disse.
A fundadora da Plataforma Quarentena Académica, referiu que apesar de terem conseguido passar a mensagem, os estudantes não foram recebidos por nenhum membro do governo.
“Nenhum membro do governo nos recebeu no dia de ontem. Ligamos para o Ministério do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia e foi-nos dito que ninguém estaria disponível para nos receber e que teríamos de enviar o nosso pedido por e-mail. Relembro que este Ministério já recebeu uma carta aberta da Quarentena Académica, anteriormente a este protesto, por e-mail e não houve ainda qualquer resposta. Isto é demonstrativo da falta de vontade diálogo que o Ministro Manuel Heitor quer ter com os estudantes”, avançou, afirmando não terem falado com qualquer membro do governo na residência oficial do Primeiro-Ministro.
“No entanto as queixas foram deixadas na sua residência. Esperamos que tenham o acompanhamento necessário”, precisou, recordado que com as ações por todo o país a Quarentena Académica conseguiu mostrar que estes são problemas a nível nacional.
“Tivemos representação em Instituições do Ensino Superior onde se encontram 70% de todos os alunos do Ensino Superior”, disse.
Ana Isabel Silva confirmou ao Novum Canal que a plataforma pretende continuar a lutar pela defesa dos estudantes do ensino superior, garantindo que é objetivo da plataforma não desistir.
“Esta ação tinha como objetivo alertar o governo para os problemas dos estudantes. Infelizmente, apesar de a população já estar alertada para estes problemas, o Ministro e governo continuam a ignorar estas queixas e a necessidade de respostas a nível central. Até vermos os pedidos de ajuda de todos os alunos resolvidos e garantirmos que ninguém desiste do Ensino Superior, devido às consequências desta pandemia da Covid-19, não iremos desistir”, expressou.
Eduardo Esteves, um doa alunos solidários com as reivindicações da plataforma, afirmou ao Novum Canal que os alunos exigem respostas concretas e que o ministro assuma as suas responsabilidade.
“ Acima de tudo, exigimos respostas concretas e que o Ministro assuma as suas responsabilidades. Estamos a enfretar a maior crise económica dos últimos tempos. É essencial dar resposta efetiva aos problemas económicos e pedagógicos dos nossos colegas e prevenir o abandono escular. Nenhum estudante deve desistir de estudar devido à quebra dos rendimentos da família e devido a esta pandemia inevitável. A suspensão das propinas e mecanismos de regularização de dívidas são da maior importância. Um Governo que quer um Ensino Superior livre e democrático não pode ignorar estas matérias e tem de tomar linhas de orientação claras neste período. A incerteza e a instabilidade de todos nós é visível. O Senhor Ministro tem de agir”, manifestou, salientando que a Quarentena Académica quer dar voz aos milhares de estudantes do Ensino Superior que, hoje, vivem dificuldades nas suas vidas.
“Esta pandemia da Covid-19 trouxe novos desafios para os nossos colegas do Ensino Superior. Quando esta plataforma foi criada começamos imediatamente a receber queixas e dúvidas de estudantes espalhados por todo o país. Há muitos colegas nossos que, com a pandemia ficaram com propinas em atraso e tiveram de entregar o quarto onde dormiam. Agora com alguns exames presenciais obrigatórios estes estudantes não numa situação complicada. A pressão do excesso de trabalhos académicos, o burnout e outros problemas de saúde mental que não estão a ter a devida resposta. A adaptação às avaliações online está a ser um desafio. Os estudantes que estão a trabalhar para a sua tese e viram este trabalho interrompido, não têm regras claras e universais sobre a solução para este problema, que difere de Instituição para Instituição. Em suma: viemos aqui dar um alerta sobre a necessidade imperiosa de combater o abandono escolar. E o abandono escolar não se combate quando estes estudantes já tiverem desistido de estudar, é preventivo! Precisamos de os apoiar agora”, explicou, recordando existiam já décadas de subfinanciamento que deixaram o sistema de ensino enfraquecido e sem capacidade de responder aos que mais precisavam.
“A crise atual só veio exacerbar os problemas já existentes”, confessou.
Questionado sobre se conhece colegas que na sequência da crise sanitária estejam a passar por grandes dificuldades, com agregados familiares sem rendimentos, famílias e estudantes em ‘lay-off’ e no desemprego”, Eduardo Esteves referiu que estão numa situação extrema e devido ao valor da propina provavelmente irão abandonar os estudos.
“Pessoalmente tenho casos de amigos brasileiros (para quem o valor da propina é ainda maior, que estão numa situação de tamanha dificuldade que muito provavelmente irão abandonar os estudos para o ano ou ainda este ano). Mas o caso mais gritante que me chegou às mãos através dos e-mails enviados a quarentena académica é o de uma rapariga cujos pais trabalhavam em atividades turísticas e decidiam portanto pagar a totalidade da propina no mês de março (quando a atividade turística estava ao rubro) ora resultado da situação atual e da ausência de turistas esta família para além de todas as dificuldades económicas que vai passar terá este custo acrescido, é o resultado da proposta de suspensão da propina em tempos de pandemia ter sido chumbada”, avançou
Eduardo Esteves recordou, também, que existem questões relacionadas com propinas, taxas, emolumentos e ação social que a crise sanitária agravou.
“Todos os problemas normais da sociedade em que vivemos são exarcebados pela crise sanitária”, confirmou, mostrando-se cético que o Governo vá atender aos protestos dos alunos.
“Tenho as minhas dúvidas, mas espero ser provado errado”, afirmou.