É intenção do Governo iniciar as aulas presenciais para todos os ciclos já no mês de Setembro.
O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, declarou, esta terça-feira, no decorrer de uma visita a um estabelecimento de ensino que o Governo está a diligenciar no sentido de arrancar o ano letivo entre 14 e 17 de setembro.
O Novum Canal auscultou alguns professores e docentes de agrupamentos de vários estabelecimentos de ensino da região que manifestaram existir um esforço no sentido de que tal venha a acontecer, mas assumiram que há aspetos que não foram ainda clarificados pelo Ministério da Educação e que necessitam de ser esclarecidos.
Valentim Sousa, diretor da Escola Secundaria de Paços de Ferreira, assumiu mesmo estar preocupado com a situação, apesar de defender o ensino presencial.
“As notícias que têm sido veiculadas pela comunicação social sinceramente preocupam-me. Admito e sei que há um esforço por parte do Governo, dos demais atores e agentes ligados ao ensino para que o ensino presencial seja retomado, mas fazê-lo sem primeiro o Ministério da Educação esclarecer o que vai ser feito e em que moldes preocupa-me”, disse, salientando que Escola Secundaria de Paços de Ferreira tem 1644 alunos, 68 turmas, em regime diurno e 24 a 28 alunos por turma.
Valentim Sousa avançou mesmo que nas condições atuais, não existindo uma diminuição do número de alunos por turma e mantendo-se a atual carga curricular, o arranque presencial das aulas para todos os ciclos será mais difícil.
O diretor da Secundária de Paços de Ferreira confirmou que terá que haver forçosamente um reforço dos equipamentos de proteção individual.
Valentim Sousa recordou que o estabelecimento de ensino tem, neste momento, mais de 400 alunos em regime presencial, do 11.º e 12.º ano a frequentar as disciplinas com exames nacionais, na sequência da decisão assumida pelo Governo em 18 de maio, e com o regresso dos alunos de todos os ciclos às escolas em setembro será necessário providenciar equipamentos de proteção para os mais 1600 alunos.
“Existem várias questões e é fundamental que o Ministério da Educação clarifique”, concretizou.
Ernestina Sousa, diretora do Agrupamento de Escolas Dr. Mário Fonseca, concordou, também, que é fundamental que os alunos regressem às escolas, mas admitiu que há questões que importa esclarecer e que irão seguramente esclarecidas.
“Em todo o caso, acredito que vai ser possível encontrar soluções que permitam o regresso dos alunos aos estabelecimentos de ensino, não a 100%, mas existem outras opções que poderão ser implementadas”, expressou, sustentando que em Lousada a situação tem vindo a melhorar, os dados da Direção-Geral de Saúde para o concelho têm sido favoráveis, pelo que tudo irá depender da evolução da curva epidemiológica nos próximos tempos e em especial no mês de agosto.

“Não deve haver pressa de apenas cumprir calendário, mas sim de garantir que tudo possa funcionar bem”
Anabela Brochado, professora no Agrupamento de Escolas Dr. Machado de Matos, em Felgueiras, manifestou estar de acordo com o regresso presencial dos alunos de todos os ciclos desde que estejam reunidas as condições higiénico-sanitárias para tal.
“Sim, concordo, desde que reunidas as condições de segurança e com as devidas autorizações da DGS. Abrir em Setembro é que considero algo complicado. Penso que a abrir em Setembro deveria ser na última semana ou então em outubro. Há muito trabalho de organização a fazer. Não será um início de ano letivo normal e em setembro ainda teremos nas escolas a 2.ª fase de exames. Não deve haver pressa de apenas cumprir calendário mas sim de garantir que tudo possa funcionar bem. Abrir a escola a toda a gente não é decisão que deva ser tomada de ânimo leve pelo elevado número de pessoas envolvidas e pelos inumeráveis contactos que se mantêm dentro de uma escola. Contudo, estando reunidas todas as condições de protecção, distanciamento, segurança e higienização, abrir a escola ao ensino presencial é algo muito importante e essencial. Deve ser bem ponderada a forma como vai ser feita, olhando muito mais para a saúde e segurança e menos para os números das despesas que irá acarretar. Todos os alunos precisam de regressar à escola, de retomar uma normalidade e de vivenciar a experiência que só a escola presencial oferece. Mas não sou utopista e acredito que surgirão muitas dificuldades na implementação deste regresso. Só espero que prevaleça o bom senso acima de tudo e que o regresso permita continuar a rumar para o sucesso e não seja apenas um mote para um retrocesso nesta luta com a Covid 19”, disse.

“Com muitas alterações ao funcionamento da escola, com muito investimento, como por exemplo o desdobramento de turmas, diminuindo o número de alunos por turma e desta forma por sala, com horários de intervalos desfasados, com tantas alterações que exigirão um grande investimento económico na educação”
A docente do Agrupamento de Escolas Dr. Machado de Matos, em Felgueiras, cuja escola está em 1.º lugar nacional no ranking de 2019 de percursos de sucesso educativo do ensino secundário, admitiu que nesta fase não existem condições para um regresso de todos.
“Não nos moldes em que a escola funciona hoje em dia, com turmas de mais de 20 ou 25 alunos, salas que estão cheias com esses mesmos alunos sentados lado a lado, corredores cheios em tempo de intervalo, cantinas, bares, bufetes, com filas nas horas de atendimento… nada disto será possível em Setembro no quadro das regras instituídas pela DGS, logo, as condições existentes neste momento não permitem um regresso de todos. Mas é possível regressar! Com muitas alterações ao funcionamento da escola, com muito investimento, como por exemplo o desdobramento de turmas, diminuindo o número de alunos por turma e desta forma por sala, com horários de intervalos desfasados, com tantas alterações que exigirão um grande investimento económico na educação. Serão precisos mais professores e muitas ideias…. Onde há vontade e determinação tudo se consegue. As condições criam-se. O importante é que o Ministério da Educação tenha abertura suficiente para deixar que as escolas se organizem e efetuem o regresso de todos com toda a segurança. Vamos aguardar pelas diretrizes”, atalhou.

“Neste momento em que já regressamos às aulas presenciais de 11.º e 12.ºano já existem disponíveis muitos desses equipamentos de segurança (máscaras, viseira, gel desinfectante, luvas, toalhetes descartáveis, entre outros)”
Questionada se as escolas estão devidamente apetrechadas com equipamentos de proteção e outros dispositivos de forma a salvaguardar a segurança dos alunos e dos funcionários e demais intervenientes da comunidade escolar, a professora afirmou que os estabelecimentos de ensino começam a estar preparados.
“ Neste momento em que já regressamos às aulas presenciais de 11.º e 12.ºano já existem disponíveis muitos desses equipamentos de segurança (máscaras, viseira, gel desinfectante, luvas, toalhetes descartáveis, entre outros) Mas estamos a falar de um regresso muito reduzido do número de pessoas na escola. Muito reduzido mesmo. Será preciso um grande investimento para fornecer todos esses equipamentos para um funcionamento diário de toda a escola”, assegurou, confirmando que a opção pelo ensino à distância que vigorou no Estado de Emergência e que ainda vigora foi a melhor opção para os alunos.
“Foi a opção possível e sim, foi uma boa opção. Que outras coisas poderíamos ter feito? Nada? Férias antecipadas sem fim à vista? Teria sido muito pior, quer a nível de retrocesso escolar, quer a nível da manutenção de uma rotina de vida para todos que se repercute sempre no bem estar psicológico. Esta pandemia impôs-se da noite para o dia. Sem aviso. Sem preparação. Sem dar tempo de estudar a melhor opção. E a escola teve de se reinventar para que os seus intervenientes ficassem ligados e pudessem continuar a evoluir. Não há nesta situação verdades universais para todos. As realidades não são as mesmas e as condições de acesso ao ensino à distância também não. Mas houve uma grande e forte vontade da parte de todos para que a instituição escola não parasse. E não parou. Falo do caso concreto do agrupamento onde leciono. No dia 8 de março à noite fomos informados que a escola estaria encerrada por tempo indeterminado logo a partir do dia 9 de março. Ninguém, alguma vez, considerou ser possível isto acontecer a meio de um ano letivo. Mas nessa mesma semana, ainda sem orientações superiores, ainda quando o próprio ministério, governo e DGS decidiam se as restantes escolas do país iriam encerrar, já no nosso agrupamento uníamos esforços e ensaiávamos o uso de plataformas entre docentes para entrar em contacto com alunos. Não o contacto das mensagens, telefonemas e emails, que esse já era prática entre nós, mas o contacto que devolveria aos nossos alunos uma sala de aula, uma turma e os seus professores nas suas diversas disciplinas. Estava Portugal a parar na sua globalidade e já nós, professores, entrávamos na casa de cada um dos nossos alunos para aquela palavra de conforto, para o partilhar de notícias e para sem esforço continuar o ritmo da aprendizagem. Com muito agrado nosso, alunos e pais receberam esta realidade da melhor forma possível e assim prosseguimos até ao final deste ano letivo. Obviamente que nem todos os alunos têm condições tecnológicas que lhes permitam esta modalidade de ensino. Mas para esses, os professores encontraram sempre alguma solução. Houvesse vontade da parte de todos que as soluções existem sempre”, avançou.

“Não que possamos dizer que ficou tudo igual e que o ensino à distância é igual ao presencial. Nada disso! Nada pode substituir o ensino presencial. O feedback que se recebe em tempo real em sala de aula diz tudo. A motivação de ver os outros a fazer, a ouvir, a trabalhar, só existe quando estamos com os outros. Aquela explicação que é dada a olhar nos olhos ou a escrever no caderno é insubstituível, porque fica na memória e porque transmite emoções e sensações que não se esquecem. Mas agora, depois de toda esta adaptação forçada, sabemos que ambos os tipos de ensino se podem e devem complementar. Aprendemos da noite para o dia que a tecnologia e a internet podem ser nossos grandes aliados. Afinal, nesta pandemia, neste isolamento social, estávamos isolados e tão próximos uns dos outros! O telemóvel não é o bicho papão que afasta os alunos da escola mas aquele aparelho mágico que os conecta ao mundo e até os motiva”, acrescentou ainda, admitindo que teremos de estar recetivos à mudança, preparados para o futuro que chega sem avisar.
“É o desafio que temos pela frente! Saibamos aproveitar as virtudes de um e outro ensino. Saibamos conjugá-los e uni-los neste futuro muito próximo que nos bate à porta em setembro e talvez tenhamos chegado àquela mudança na educação que estava a ser necessária e que poderá abrir novos horizontes a todos nós”, confessou.