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O século XIX e o brasileiro de torna-viagem retratados no novo romance de Beatriz Meireles

O  brasileiro de torna-viagem, seguramente um dos temas de eleição, predileto  da vereadora da Cultura da Câmara de Paredes, é um dos tópicos que faz parte do mais recente romance de Beatriz Meireles, uma obra que promete agarrar o leitor da primeira à última página e que será apresentada, no dia 28 junho, pelas 17h30, na Casa da Torre em Sobrosa, concelho de Paredes.

Ao Novum Canal, a vereadora e autora, destacou que o romance retrata a “história de um brasileiro de torna-viagem e dos seus amores legítimos e ilegítimos. O Visconde, depois de regressar a Portugal, constrói uma casa de brasileiro, com os azulejos da época, e um belíssimo jardim com camélias. Há também a história de um bebé deixado a porta de uma igreja, cuja paternidade e maternidade são mantidas em segredo ao longo de quase todo o romance”, disse, salientando que o romance situa-se no século XIX, uma das suas épocas prediletas, um tempo que gosta de trabalhar e abordar nas suas obras.

“Brinco, por vezes, ao dizer que poderia ter vivido num outro tempo, no século XIX ou no Renascimento. Dois períodos históricos que considero fascinantes, com um património arquitectónico bem presente no concelho de Paredes (no que se refere à presença dos brasileiros de torna-viagem)”, adiantou.  

Questionada sobre como e quando é que surgiu a ideia de avançar com este novo romance histórico, a autora destacou que foi depois de ler um diário de um brasileiro de torna-viagem do espólio da sua família e ter lido outros textos de investigadores, que começou a fermentar em si a ideia para elaborar este novo romance.

“Não posso precisar como e quando surgiu a ideia desta história. Neste momento, sei que já estou a construir mentalmente as minhas próximas duas histórias, para além daquela que escrevo presentemente. No entanto, se quisermos atribuir um tempo para esta história, diria que comecei a ler um diário de um brasileiro de torna-viagem do espólio da minha própria família para “beber” alguns termos que se utilizavam, assim como a ler outros textos de investigadores, como é o caso da professora Alda Neto, que será uma das apresentadoras (para além do escritor e professor Aires Montenegro), a consultar certidões e outros documentos antigos, a visitar espaços e museus, assim como a anotar ideias entre 2017 e 2018. Com este trabalho prévio realizado, escrevi entre o fim de 2018 e início de 2020, um ano terrível, o da pandemia, para a cultura”, avançou, sustentando que a obra é recente, tendo terminado o romance em 2020.

“O livro não é muito volumoso, mas tem mais conteúdo do que o anterior. Uma primeira aventura literária não tão decente quanto esta, mas que faz parte da evolução de quem gosta e tem necessidade de escrever para viver mais serenamente”, atalhou, reconhecendo ter um “fascínio pela leitura, mais pela escrita e pela observação das pessoas, das coisas, das flores, das paisagens e dos animais. Interesso-me pela história, história de arte, pela filosofia e política. Mas, sim, posso dizer que gosto muito de romances históricos”.

“Escrever para crianças não é uma tarefa fácil… não queremos que as crianças sejam patetas, já dizia Sophia, mas também não podemos escrever como se fossem adultas”

Beatriz Meireles admitiu que está a tentar escrever uma história para crianças, “inspirado nas paisagens das freguesias da Sobreira e de Aguiar de Sousa, que o meu filho Bernardo se possa orgulhar daqui a uns anos. Mas escrever para crianças não é uma tarefa fácil… não queremos que as crianças sejam patetas, já dizia Sophia, mas também não podemos escrever como se fossem adultas”.  

Questionada se é expectável que venha a escrever um novo romance histórico, a autarca confessou que ainda não decidiu se vai situar as novas histórias num outro tempo, “apesar de já ter muitas ideias a pairar para outros romances, que podem ser inspirados em factos históricos, mas não serem propriamente históricos…”

Já sobre o feedback que espera obter dos seus seguidores com esta obra, a vereadora não hesitou: “ Julgo que é muito presunçoso falar em seguidores, pois ainda estou a começar e há muito espaço para melhorar e crescer, mas esta é uma história misteriosa, que prende o leitor. Diz, quem já leu, que é muito interessante. Eu até acredito, pois entendo que quem não gosta, não diz nada”, declarou, sublinhando que não se vê como crítica literária para conseguir definir a sua escrita e a sua obra.

“Entendo que estou apenas a começar, a respirar com a escrita, deixando espaços abertos a preencher no futuro. Há quem diga que já existe um estilo próprio que me distingue, mas eu não sei se existe ou não” avançou,  referindo-se ao seu mais recente romance como “talvez literatura para todos”.

“Os paredenses e os portugueses nem sempre estão unidos para levarem a cultura mais a frente. Há sempre a ideia que a cultura é para os intelectuais, onde não pode entrar mais ninguém”

Falando do atual contexto literário no território, a responsável pela Revista Cultural do Município de Paredes – Orpheu Paredes e o Café Literário confirmou que existem muitos bons autores e livros na região.

“O Vale do Sousa tem um ar que inspira! Como a figura da Beatriz Meireles como vereadora tem neste momento mais peso que a própria pessoa, permita-me que não lhe indique nenhum nome ou livro, para não ferir suscetibilidades”, asseverou.  

Já quanto à questão da cultura ser valorizada pelos atores e agentes políticos a nível nacional, a autora reconheceu que “há boas instituições, bons atores e agentes políticos a nível nacional que valorizam a cultura”.

“No entanto, os paredenses e os portugueses nem sempre estão unidos para levarem a cultura mais a frente. Há sempre a ideia que a cultura é para os intelectuais, onde não pode entrar mais ninguém. Em Paredes, quisemos criar os Amigos da Cultura para aproximarmos as pessoas de todos os géneros, as associações culturais, por forma a valorizarmos a cultura mais erudita e a dita mais popular”, acrescentou.

Falando do trabalho que tem realizado enquanto responsável pelo pelouro da Cultura de Paredes, Beatriz Meireles atalhou que o executivo municipal de que faz parte tem promovido projetos como o Café literário, a revista cultural Orpheu Paredes, os prémios Henrique Silva e Antonio Mendes Moreira, a Rota dos Brasileiros de Torna Viagem e o trilho (ainda experimental) de Baltar, no âmbito do projeto Caminhar pelo Património, e a valorização do poeta Daniel Faria.

“Avançamos com a cultura em casa na fase de confinamento e no período de transição. Estamos agora a avançar com o programa Descobrir Paredes e o Cultura em Casa, que também passará para além do online, respeitando as normas vigentes da DGS para as infra-estruturais culturais. Claro que não podemos fazer um desfile concelhio etnográfico que junte centenas e centenas de pessoas… “, concretizou.

“A resposta a esta crise é continuar com a cultura, se não for possível em espaços fechados, ao ar livre, se não for possível presencialmente, através da internet”

A curto/médio prazo, Beatriz Meireles referiu que a Câmara de Paredes quer continuar com a linha já seguida, adaptando os projetos a esta nova realidade.

“A resposta a esta crise é continuar com a cultura, se não for possível em espaços fechados, ao ar livre, se não for possível presencialmente, através da internet. Estamos ansiosos pela conclusão das obras do pavilhão multiusos e do auditório. Darão espaço para crescerem projetos como é o caso do Centro Português de Nychelharpa ou até de uma companhia de teatro profissional, assim como a realização de espectáculos mais grandiosos no concelho por parte, por exemplo, dos Conservatórios de Música e de Dança. Depois disto, ficam em falta um Arquivo Municipal Histórico e um Museu, que valorize também o extenso espólio arqueológico que está escondido”, assegurou, confirmando que a crise sanitária deixou marcas  severas na produção cultural, com impactos económicos significativos.

“ Sem dúvida, todos os artistas ou escritores com quem falo repensam já os seus percursos e adaptam-se as limitações impostas por esta pandemia… investir na cultura quando as pessoas passam dificuldades não é bem aceite, o que é um contra-senso, pois a cultura gera riqueza. Alguns projetos ficaram infelizmente em suspenso. Fazemos um esforço hercúleo para adaptar os projetos as novas regras. Eu própria terei, infelizmente, de ter menos pessoas presentes na apresentação e, consequentemente, vender menos livros”, anuiu, defendendo mais apoios para a cultura como forma de minimizar a situação débil que os agentes e os atores ligados ao setor estão a atravessar.

“Quer este, quer o livro anterior, resultaram de investimentos pessoais e económicos próprios, com algum custo. Nem todas as pessoas estão em condições para o fazer, por forma a mostrarem a sua arte e a literatura.

Beatriz Meireles nasceu em Paredes, a 30 de junho de 1985., é licenciada e mestre em Direito, desde 2017 que é vereadora dos pelouros da Ação Social, Cultura e Turismo na Câmara Municipal de Paredes. É também responsável pela Revista Cultural do Município de Paredes – Orpheu Paredes e o Café Literário, entre outros projetos culturais.

Escreveu algumas crónicas e contos para jornais locais.

Em 2019, publicou o primeiro livro “Depois da Morte (um amendoal em flor)”, o que diz ser o início, um ensaio, de um percurso cujo fim desconhece.

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