São vários os clubes e técnicos de natação na região do Tâmega e Sousa que se associaram à iniciativa ‘Não Deixes Portugal Afogar’, movimento que tem como meta a reabertura das piscinas e o regresso dos treinos, depois destes equipamentos terem estado vários meses encerrados, na sequência da crise sanitária Covid-19 e do decretar do Estado de Emergência e de Calamidade.
O movimento, promovido pelos técnicos de natação, tem, igualmente, como propósitos sensibilizar os órgãos decisores para a importância desta atividade, reiterando o total cumprimento das diretrizes e indicações definidas pela Direção-Geral de Saúde (DGS).
Para os técnicos de natação, as “piscinas são o espaços desportivos mais seguros relativamente à higienização”.
O Novum Canal auscultou vários clubes e dirigentes com responsabilidades nesta área sobre o este tema, as dificuldades que estão a passar, e quais os aspetos motivacionais que o cancelar das provas e treinos estão a ter nos atletas e praticantes de natação.
Jorge Almeida, do Clube de Natação de Felgueiras (FOCA), admitiu que é urgente a reabertura das escolas de natação.
“Atualmente praticamente não existe natação, quer na região do Tâmega e Sousa, quer a nível nacional. As piscinas encontram-se encerradas, apenas atletas de alto rendimento e de seleções nacionais é que se encontram no ativo, na nossa região e de que tenha conhecimento só os nossos atletas Francisca Martins e Tomás Lopes é que estão no ativo ao abrigo do decreto de lei que sustentou o primeiro estado de emergência e graças a boa vontade da Câmara Municipal de Felgueiras que, de forma exemplar, criou as condições necessárias para que os nadadores mantivessem as rotinas de treino. Mas a natação não é só atletas de seleções nacionais, sendo urgente a reabertura das escolas de natação que são estas que sustentam toda a modalidade”, disse.
”Existem inúmeros clubes no limite da sobrevivência. Com mais um mês de inatividade infelizmente alguns irão fechar as portas”
Questionado sobre o impacto que a crise sanitária está a provocar na modalidade, Jorge Almeida admitiu que estes podem ser medidos a vários níveis, motivacionais, fisiológicos, mas também financeiros, existindo inclusive clubes que estão a ponderar fechar portas.
“Do ponto de vista desportivo o impacto é tremendo, vamos na décima primeira semana sem contacto com a água, todos os atletas das modalidades aquáticas precisam desse contacto para não perderem a sensibilidade. Depois temos os aspetos fisiológicos que são recuperáveis, mas vão ser necessárias muitas semanas para que estes se aproximem dos níveis anteriores à suspensão de toda a atividade aquática. Mas, sem dúvida, que o aspeto mental é que irá determinar a grandeza e complexidade desse impacto nas nossas modalidades uma vez que se perdeu toda a rotina de treino e isso poderá comprometer o regresso de muitos atletas. Do ponto de vista financeiro, apesar de não existir gastos com as últimas competições da época, temos uma série de dessas fixas, nomeadamente com os técnicos que tudo faremos para as cumprir. Mas temos conhecimento que existem alguns clubes a ponderar fechar as portas”, afirmou,.
Sobre as dificuldades que os clubes estão a passar, Jorge Almeida realçou mesmo que “existem inúmeros clubes no limite da sobrevivência. Com mais um mês de inatividade infelizmente alguns irão fechar as portas. Nunca é de mais referir que a Federação de Natação é a segunda maior do pais no que diz respeito ao número de filiados/praticantes. Não se esqueçam de nós…”, sublinhou.
Nesta questão, Jorge Almeida esclareceu, também, que Felgueiras foi um do primeiros concelhos a ser atingidos pela Covid-19 e a encerrar portas.
“Desde o dia nove de março que não temos atividade”, frisou.
Falando ainda sobre da paragem dos atletas e do impactos a nível psicológico e motivacional que esta paragem venha a provocar, Jorge Almeida admitiu que esta é uma questão complexa.
“Pergunta muito complexa que só poderemos responder após o regresso aos trabalhos. Sabemos que todos os técnicos tem mantido ligações ao grupo de trabalho mas também sabemos que uma coisa é conversarem virtualmente e outra é pessoalmente. Queremos acreditar que os nossos atletas e encarregados de educação vão poder e querer manter o compromisso e confiar novamente no trabalho que estava a ser desenvolvido”, atalhou, lamentando que nas linhas de apoio da COVID-19 implementadas pelo Governo, o desporto foi continue a ser praticamente esquecido ou até mesmo ignorado.
“É do senso comum que o desporto tem um forte impacto económico na sociedade mundial, envolvendo cerca de 800 biliões de euros por ano. Infelizmente esta questão não está refletida nas linhas de apoio COVID-19 implementadas pelo governo. Todo o desporto foi e continua a ser praticamente esquecido ou até mesmo ignorado. Sabemos que iremos ter um regresso muito complicado uma vez que todo o sistema económico estará enfraquecido. Apelamos as entidades privadas assim como ao poder local (autarquias) que continuem a apoiar o associativismo desportivo”, acrescentou.
Jorge Almeida confirmou que existe muita precariedade no setor e urge credibilizar as diversas carreiras profissionais relacionadas com as modalidades aquáticas.
“Diria mesmo que em especial nos clubes de natação. Existe muita precariedade no setor, algo que terá que ser corrigido em breve. Urge credibilizar as diversas carreiras profissionais relacionadas com as modalidades aquáticas. Somos um país com mais 800 km de costa, saber nadar é quase uma obrigação e na hora de reconhecer a importância da natação no bem estar da sociedade poucos são os que lhe dão o devido valor”, adiantou.
Quanto à existência de condições técnicas, higiénico-sanitárias para retomar os treinos e as atividades, Jorge Almeida recordou que a natação é considerado um desporto de baixo risco uma vez que praticamente não existe contacto.
“Desde sempre que as piscinas se regem ou deviam reger por regras apertadíssimas de higienização estabelecidas pelas entidades de saúde. Importa referir que natação é considerado um desporto de baixo risco uma vez que praticamente não existe contacto. Já existem vários estudos que demonstram que o risco de contágio é nulo. Em Felgueiras orgulha-mo nos de ter um dos melhores planos de água do país no que a higienização e tratamento de água diz respeito”, asseverou, mostrando-se convicto que movimento “Não Deixes Portugal Afogar” poderá ajudar a inverter o momento difícil que a natação se depara.
“Acredito que o movimento irá alavancar a solução para muitos dos problemas das coletividades desportivas no âmbito da natação. Desde logo porque está a mobilizar muita gente e muita gente importante que poderá levar a profissionalização da modalidade (desde os técnicos das escolas de natação até aos treinadores) para outros patamares, tentando diminuir aquilo que é a precariedade dos nossos profissionais que em tempo de pandemia ficou bem visível. Certamente que será um mecanismo que criará condições para ajudar todos os intervenientes (clubes, treinadores, técnicos, etc…) a superar esta crise”, anuiu, confessando que “está na hora de olhar o desporto em geral de uma forma diferente, como um bem essencial no bem estar e formação dos nossos filhos. É urgente que isso aconteça”.
Apesar deste cenário menos positivo, Jorge Miranda revelou acreditar num regresso das competições ainda em 2020.
“Sim, felizmente em Portugal a pandemia foi (teoricamente) controlada. Acredito que a Federação tudo fará para retomar as competições ainda no decorrer deste ano de 2020. Os atletas precisam de ter um objetivos concreto e este passa pela existência de provas/jogos”, concretizou.
O clube de Natação de Felgueiras integra todas as modalidades de natação pura, natação artística e de polo aquático.
Tem os escalões de Natação pura (GR Formação chamados cadetes B, Cadetes A e B, Infantis A e B, Juniores A e B, Juvenis A e B, Seniores e Masters); Natação artística (Formação (pré-competição, Infantis, Juniores e Juvenis); Polo Aquático (Ninis formação, Sub. 12 Mistos, Sub 14, Sub 16 e Seniores estes a competir na segunda divisão nacional).
No momento da paragem, o clube tinha cerca de 210 atletas, sendo uma das maiores coletividades desportivas da região e do país.
“Procuramos ao longo deste tempo minimizar as perdas de performance nos nossos atletas”
Pedro Morais, coordenador da escola de natação do Clube Aquático Pacense, declarou que os clubes, atletas e treinadores estão a chegar ao final de um caminho bastante duro e difícil.
“Penso que estamos a chegar ao final de um caminho bastante duro e difícil, em que fomos obrigados a ficar afastados daquilo que mais gostamos de fazer, com todas as implicações daí decorrentes, quer desportivas quer económicas. Este é um momento em que considerando esta nova realidade, começamos a preparar o regresso, reparando aquilo que é reparável e retomando tudo aquilo que ficou em suspenso por via da pandemia”, sustentou, assumindo que a Covid-19 deixou marcas severas na modalidade.
“O impacto da COVID-19 na modalidade foi enorme, um pouco à semelhança do que aconteceu com outras modalidade, com a suspensão de toda a preparação dos nossos atletas e o cancelamento de todas as competições para as quais nos estávamos a preparar. A natação pela especificidade do meio onde acontece, é uma modalidade em que é praticamente impossível replicarmos a preparação e o trabalho que é feito na piscina. Contudo, procuramos ao longo deste tempo minimizar as perdas de performance nos nossos atletas, conscientes de que estas foram muito grandes e são maiores a cada dia que passa”, disse, esclarecendo que o dia 09 de março, foi o dia do último treino na água.
Pedro Morais reconheceu que esta longa paragem irá deixar marcas quer do ponto de vista psicológico e motivacional.
“O impacto a nível psicológico e emocional é, e será muito grande. Esta paragem significou para uma grande parte dos nossos atletas a impossibilidade de concretização dos objetivos para os quais vinham a trabalhar desde setembro e que de um momento para outro deixaram de existir e têm de ser reformulados”, afirmou, defendendo, também, que as perdas do ponto de vista económico-financeiro foram significativas.
“É um impacto gigantesco, já que as grandes fontes de receita dos clubes, que são as mensalidades dos seus atletas e dos alunos da escola de natação cessaram, mas grande parte dos gastos que são os recursos humanos mantiveram-se”, disse, declarando que esta é uma situação transversal a todos os clubes de natação, embora existam clubes cujas fontes de receita provêm do apoio das câmaras municipais.
“Pese embora a existência de muitos clubes cujas fontes de receita provêm fundamentalmente do apoio das câmaras municipais, o impacto da paragem de todas as atividades afetou a nível económico e de forma muito profunda uma grande parte dos clubes e escolas de natação em Portugal”, recordou.
Quanto à reabertura das piscinas, o coordenador da escola de natação do Clube Aquático Pacense esclareceu existirem condições técnicas, higiénico-sanitárias para retomar os treinos e as atividades.
“Penso que sim. Antes demais devo dizer que as piscinas são provavelmente dos locais mais seguros para se frequentar neste contexto de pandemia do COVID-19, pois todos os estudos indicam que o vírus não resiste ao cloro e por conseguinte não resiste no local onde decorrem as nossas atividades, dentro de água. Assim, as piscinas são e serão locais seguros no que às condições sanitárias diz respeito. Como é lógico há um conjunto de procedimentos e cuidados a ter, nomeadamente o distanciamento social, a etiqueta respiratória ou a desinfeção das mãos, cuidados e procedimentos que são comuns a todos os outros locais, pelo que considero que com as devidas adaptações e alterações de procedimentos, as piscinas estão em condições para reabrirem e retomarem as atividades normais”, precisou, informado que ter conhecimento de alguns clubes que dificilmente retomarão a atividade.
Já quanto à eficácia e alcance do movimento “Não Deixes Portugal Afogar”, Pedro Morais assegurou estar convicto que este vai atingir os objetivos que presidiram à sua criação.
“Este movimento veio alertar e dar visibilidade à situação extremamente difícil que muitos clubes estão a passar e para os impactos ao nível da preparação e desenvolvimento desportivo de milhares de crianças e jovens”, recordou, mostrando-se convicto que dentro em breve os clubes, os alunos e os atletas voltarão a fazer aquilo que mais gostam.
“Na presente época, que vai até setembro, não! Mas acredito que com as devidas adaptações será possível voltarmos a competir na próxima época”, disse.
Desde que iniciou a crise sanitária, o Clube Aquático Pacense tem à volta de 200 sem competir, entre águas abertas, polo-aquático, natação, natação adaptada e masters.
A escola de natação conta com cerca de 350 alunos.
“Os clubes sobrevivem das receitas das suas escolas, o que neste caso e com o fecho das piscinas supõe a perda de 100% da receita”
Hugo Folgar, presidente do Clube Aquático Pacense, confirmou que o clube, tirando os atletas de alta competição que regressaram aos treinos em Felgueiras, os restantes clubes estão parados.
O dirigente assumiu que as piscinas desde o dia 9 de março foram encerradas e sem saber, para já, quando irão ser retornadas.
Falando dos impactos que o Covid-19 poderá ter do ponto de vista psicológico e motivacional, Hugo Folgar assumiu que nalguns casos, alguns atletas poderão abdicar até da modalidade.
“Quebrar um ciclo é sempre muito mau, neste caso acho que nenhum dos nossos atletas estiveram parados tanto tempo, o que nalguns casos poderá supor o abandono da modalidade”, confessou, admitindo que as consequências económico-financeiras são mais difíceis de ultrapassar.
“Pois acho que este é o pior ponto. Os clubes sobrevivem das receitas das suas escolas, o que neste caso e com o fecho das piscinas supõe a perda de 100% da receita. No caso do CAP, por agora conseguimos aguentar com os trabalhadores com contrato em Lay-off e com algum dinheiro que o clube disponha antes do inicio da pandemia. Não sei se conseguiremos resistir, mas por agora e se não parar o Lay- off esperemos chegar a próxima época”, relembrou, lembrando que esta crise é transversal a todos os clubes de natação da região.
Já quanto à existência de condições técnicas, higiénico-sanitárias para retomar os treinos e as atividades, o responsável pelo Clube Aquático Pacense esclareceu que se forem feitos grupos pequenos é possível começar a treinar.
“O problema seria conseguir o financiamento para pagar aos treinadores a 100%”, acrescentou”, referiu, confirmando que o Clube Aquático Pacense já está com problemas sérios de tesouraria.
“Neste momento o mais importante para nós será retomar a atividade para evitar que o clube consiga resistir economicamente, depois disto espero que sim, que sejam reativadas o mais rápido possível”, relembrou.
“O vírus não se propaga na água, e nas piscinas a higienização já era grande”
Fábio Madureira, Associação Desportiva de Penafiel, secção de natação, realçou que a natação está em clara evolução, como evidencia o elevado número de praticantes, sendo a segunda modalidade com mais federados
“Em Penafiel a natação também apresenta um grande crescimento, além de termos aumentado o número de praticantes, temos claramente melhorado a nível de resultados”, referiu, frisando que a Covid-19 teve sobretudo repercussões na não realização dos objetivos dos nadadores.
“Com o cancelamento de todas as provas, os principais impactos foi na não realização dos objetivos dos nadadores, que estavam a trabalhar para objetivos específicos e com o seu cancelamento não foi possível”, confessou, salientando que último treino realizado pela Associação Desportiva de Penafiel decorreu a 9 de Março e a ultima competição foi no fim de semana de 7 e 8 de março.
Falando dos impactos ao nível psicológico e motivacional, Fábio Madureira admitiu que o cancelamentos dos treinos e das provas impediu os atletas de alcançarem as metas que tinham definido.
“O cancelamento de provas impediu de os nadadores realizarem os seus objetivos, pode levar a desmotivação. E quanto maior for a paragem pior pode ser. Quando retomarmos é que podemos fazer uma melhor avaliação”, concretizou, assumindo que com a paragem, o valor das mensalidades é simbólico, sendo este a grande base de financiamento do clube, o que pode vir a ser bastante grave.
“Como disse, está pendente de quanto tempo iremos estar parados”, atalhou, confirmando que esta é uma realidade transversal a todos os clubes e associações.
“Todos os clubes dependem das mensalidades, claro que existe uns com maiores capacidades do que outros, mas se não retomarmos a atividade rapidamente muitos clubes podem até mesmo encerrar”, expôs.
Tal como os demais, Fábio Madureira declarou existirem condições técnicas, higiénico-sanitárias para retomar os treinos e as atividades.
“Na minha opinião sim, segundo os estudos que li, o vírus não se propaga na água, e nas piscinas a higienização já era grande, se calhar dos locais desportivos mais controlados em termos de higienização, por isso acho que claramente existem condições. Não de todas as atividades, mas dos treinos sim, com regras, como é lógico, tendo sempre em contra o distanciamento social, que pode facilmente ser assegurado durante o treino. E os nadadores ficarem sem nadar é grave, porque perdem a “sensibilidade” ao meio aquático, que é muito importante”, expressou, manifestando que existem clubes em sérios riscos de encerrar se não retomarem a atividade rapidamente.
Questionado sobre a pertinência da criação do movimento “Não Deixes Portugal Afogar”, Fábio Madureira recordou que o movimento tem como metas alertar o país e as entidades competentes para a necessidade da atividade ser retomada.
“Sentimos que estamos a ser deixados um pouco para trás, porque a nossa modalidade, na minha opinião pode assegurar as regras das DGS, mas não nos deixam treinar. Os ginásios pelo que ouvi vão ser autorizados a abrir e para nos ainda não existe sequer data. Este movimento é para relembrar a todos que “existimos”, ”, atestou, afirmando que a partir do dia 6 as piscinas exteriores já poderão abrir.
“Pode ser uma janela para nos podermos treinar. Mas mesmo assim é curto espero bem que nestes dias nos indiquem quando e como podemos retomar”, relembrou, lembrando que em alguns escalões a última competição decorreu em fevereiro.
Quanto ao regresso das competições, Fábio Madureira admitiu que estas só deverão regressar na próxima época, a partir de outubro.
“Neste período sem piscina, os treinadores de muitos clubes organizam treinos “secos” via internet”
Também o presidente da Associação de Natação do Norte de Portugal, Aníbal Cabral Pires, admitiu que este é um momento difícil para todos.
O responsável pela Associação de Natação do Norte de Portugal esclareceu que nesta fase, as piscinas estão fechadas, só estando autorizados atletas de Alto Rendimento ou das Seleções Nacionais treinarem em piscinas, medida que só foi autorizada na segunda fase de desconfinamento. Ou em alternativa, realizar treinos no mar ou rio, desde que cumpram as diretrizes em vigor.
Aníbal Cabral Pires avançou que com a Covid-19 procedeu-se ao adiamento e cancelamento de competições até ao final da época, bem como a impossibilidade dos nadadores treinarem.
“A Associação de Natação do Norte de Portugal foi o primeiro organismo a nível nacional de natação a decidir cancelar os seus eventos. Essa decisão foi comunicada no dia 4 de março para o fim de semana de 6 a 8 de março, em que se iriam realizar os campeonatos regionais de natação e de polo aquático. Desde então, todos os eventos foram cancelados”, confirmou, admitindo a indefinição de não se saber quando podem voltar à piscina para treinar ou competir é algo que desmotiva qualquer atleta.
“Neste período sem piscina, os treinadores de muitos clubes organizam treinos “secos” via internet”, confessou, sustentando que a natação também está a sofrer com esse impacto económico-financeiro.
“Como em qualquer área em que não há atividade, obviamente que a natação também está a sofrer com esse impacto económico-financeiro. Estão a ser tomadas algumas medidas de apoio aos clubes em articulação com a Federação Portuguesa de Natação, como por exemplo a isenção de pagamento dos clubes das taxas e emolumentos de licenciamento de clubes e atletas às Associações Territoriais”, lembrou, admitindo que nem todos os clubes têm a mesma dimensão, mas, de uma forma geral, estão a sofrer com esta crise sanitária.
Quanto à reabertura das piscinas e à existem condições técnicas, higiénico-sanitárias para retomar os treinos e as atividades, o responsável pela Associação de Natação do Norte de Portugal esclareceu que a associação não é proprietária de nenhuma piscina.
“Terão de ser os proprietários das mesmas, câmaras municipais e clubes, a criarem condições que viabilizem a retoma de treinos e atividades. Estaremos sempre disponíveis para contribuir e apoiar nessa tarefa”, anuiu, manifestando que da esta prolongada paragem, os clubes estão a passar por um momento complicado ao nível financeiro.
“Estou confiante que darão a volta por cima porque esperamos que muito brevemente as piscinas possam abrir para todos. Até ao momento, nenhum clube da Associação fechou portas”, aludiu, concordando que o movimento “Não Deixes Portugal Afogar” tem ganho força, mas a decisão final será sempre das autoridades de saúde e do Governo.
“Todas as iniciativas do género ajudam a inverter o momento difícil que vivemos. Este movimento tem ganho força, mas a palavra final será sempre das autoridades sanitárias e governamentais. As piscinas ao ar livre vão abrir a 6 de junho, mas sujeitas, com as necessárias adaptações, às regras de ocupação e utilização semelhante às praias. Já é um passo.”,
Sobre esta questão, Aníbal Cabral Pires esclareceu, ainda, que as piscinas ao ar livre vão abrir a 6 de junho, mas sujeitas, com as necessárias adaptações, às regras de ocupação e utilização semelhante às praias.
“Tudo vai depender da evolução desta crise sanitária. Esperamos que as competições possam voltar em outubro”, professou.
Segundo o dirigente, os clubes ligados à associação, sem competir, são 28 clubes, representando 2600 atletas de todas as disciplinas.
“Há risco de insolvências, há situações de alarme social entre os profissionais deste setor, há risco de abandono de clubes e praticantes”
António Silva, presidente da Federação Portuguesa de Natação, defendeu que não fosse a atual pandemia, a natação no país estaria a passar por um dos seus melhores momentos.
“Se nos reportarmos ao momento da natação abstraindo-nos da avaliação dos efeitos concretos desta pandemia, podemos afirma com confiança que estaríamos a atravessar uma das melhores fases de sempre em relação ao nosso potencial, quer enquanto modalidade, sendo a segunda no país com maior número de filiados, quer a nível competitivo, cinco nadadores apurados para os Jogos Olímpicos com mínimo A sabendo que os mesmos correspondem ao tempo obtido pelo 14.º classificado dos últimos Jogos realizados são o aspeto mais relevante desta afirmação”, explicitou.
António Silva questionado sobre os impactos da Covid-19 na modalidade, admitiu que dimensão do impacto não é ainda mensurável, embora os receios de que “são devastadores são reais e deverão incidir sobretudo na massa crítica dos nossos praticantes que poderá sofrer uma diminuição significativa em termos quantitativos”, recordou, assumindo que de uma forma geral desde o dia 13 de março, com ligeiras variações, uma vez houve piscinas que fecharam mais cedo e outras e outras que mantiveram mais alguns dias de atividade, que as piscinas encerraram.
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Sobre os efeitos psicológicos e motivacionais desta crise sanitária nos atletas, o responsável pela Federação Portuguesa de Natação concordou que o maior receio resulta do desconhecimento de quando é que a situação poderá estar ultrapassada.
“Em relação aos praticantes, é de facto ingrato manter os níveis de motivação sem saber quando será ou se irá haver a próxima competição. É a altura de sobrevalorizar a paixão pelo desporto e refletir sobre os seus aspetos condicionantes e só assim o regresso poderá trazer-nos mais fortes”, especificou, reconhecendo que os impactos económico-financeiro são evidentes.
“A paragem global de uma atividade traz consequências desastrosas do ponto de vista económico. Os clubes e as instituições relacionadas diretamente com a prática da natação nas suas variadas vertentes têm pouca margem de manobra para sobreviver à ausência de receitas. Há risco de insolvências, há situações de alarme social entre os profissionais deste setor, há risco de abandono de clubes e praticantes e, portanto, anteveem-se dias muito difíceis”, precisou, recordando que haverá situações criticas, mas de uma forma geral os clubes estão todos a passar tempos complicados.
“Começam a surgir notícias de situações extremas e outras que têm sido obviadas pela instalação de regimes de layoff. A Federação já implementou um conjunto de medidas para obviar as dificuldades dos clubes, reduzindo os seus encargos e promovendo restituição de verbas de provas não realizadas, mas reconhecemos que a dimensão do problema nos ultrapassa em termos de capacidade de resposta”, acrescentou.
Já sobre a existência de condições técnicas, higiénico-sanitárias para retomar os treinos e as atividades, o dirigente foi taxativo: “Não tenho dúvidas que sendo a piscina o espaço desportivo mais controlado sob o ponto de vista da higiene e estando nós totalmente disponíveis para participar na solução de qualquer dificuldade e na adoção de todas as medidas para restaurar a confiança dos utentes. As piscinas estão em condições de abrir. Aliás acrescento que é fundamental acabar de uma vez por todas com o mito instalado sobre a segurança higiénica das piscinas. Não conheço nenhum espaço desportivo que seja controlado em regime mensal pelas diferentes administrações regionais de saúde que têm critérios rigorosos para o funcionamento destas instalações não se coibindo de impor o encerramento das que não considerem seguras”.
Falando da criação do movimento “Não Deixes Portugal Afogar”, o presidente da Federação Portuguesa de Natação admitiu que esta é uma iniciativa feliz dentro deste “quadro tão negro”.
“O facto de os técnicos de natação se terem unido em busca de respostas e tenham encontrado este lema que tem a força necessária para reunir esforços para este objetivo que é de todos. A importância da atividade deveria ser um aspeto indiscutível num país onde o número anual de mortes por afogamento está regularmente na casa das centenas. O país abriu o mar à prática desportiva e não se lembrou de a natação de águas abertas também deveria ser contemplada. Houve necessidade da nossa intervenção para corrigir este facto, mas ele é ilustrativo da, pouca, importância no desporto em geral e a natação em particular”, afiançou, salientando que a Federação e os demais atores e agentes ligados à natação vão fazer tudo para convencer as autoridades a retomarem os treinos e as competições.
António Silva mostrou-se, por outro, otimista que todas as competições do calendário desportivo da próxima época irão iniciar a 15 de setembro.
“É nisso que acreditamos, estando cientes de que há fatores que não podemos controlar”, garantiu, sustentando que, neste momento, nenhum dos filiados da Federação pode competir pelo que a prática competitiva está restringida aos treinos sistemáticos dos atletas de alto rendimento e seleções nacionais.