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“Como outro qualquer cidadão, também nós artistas temos família, filhos e os restantes encargos mensais”, Luís Oliveira, diretor artístico da Jangada Teatro

São várias as instituições na região que devido ao Covid-19 e ao surto epidémico foram atingidas direta ou indiretamente por esta situação e pelas restrições  que à posteriori foram decretadas pelo Governo.

O Novum Canal foi ouvir três protagonistas de diferentes instituições culturais (Jangada Teatro, Orquetra Ligeira do Vale do Sousa Big Band e Banda de Música de Lousada) que se mostraram preocupados com as repercussões do surto sanitário nas suas instituições, na estrutura financeira das organizações e no cronograma de atividades que acabou por ser afetado.

Luiz Oliveira, diretor artístico da Jangada Teatro, Companhia de Teatro Profissional, sedeada em Lousada,  reconheceu que o teatro, como as demais artes performativas, foi atingido pelas medidas decretadas, teve de fechar portas e ficar em confinamento.

Nesta matéria, o ator recordou que os artistas estão, na sua maioria, numa situação deverás difícil até porque a maioria  têm contratos de curta duração (1 a 3 meses) e sem espetáculos e sem público, a sua situação tem tendência a agravar-se.

“Infelizmente, como todos os restantes setores, também o teatro teve de fechar portas ao público e ficar em confinamento. Os artistas, no geral, estão seriamente ameaçados, pois, grosso modo, têm contratos de curta duração (1 a 3 meses), para a criação e realização de uma nova produção. Se, entretanto, o espetáculo não puder ser levado a cabo, não há público, logo não há receita, o que deixa os artistas sem nenhum modo de subsistência. E, como outro qualquer cidadão, também nós artistas temos família, filhos e os restantes encargos mensais”, disse.

Luiz Oliveira recordou que logo no inicio do surto a companhia de teatro foi seriamente afetada, sendo que além do mais, o concelho de Lousada foi o primeiro a ser atingido pela crise sanitária.

“Logo no início de março percebemos que as coisas não estavam bem. Lousada, por exemplo, foi um dos primeiros concelhos a decretar o plano de contingência – covid 19. Estávamos já com os ensaios gerais para a estreia do nosso novo espetáculo “Pinóquio” marcada para o dia 29 de março, em Felgueiras, que ficou adiado por tempo indeterminado”, frisou, salientando que apesar da situação ser difícil,  a companhia está a comemorar os seus 20 anos e quer continuar a fazer aquilo que sabe fazer melhor: teatro.

“Estávamos a comemorar os nossos vinte anos de Jangada Teatro, começando a efeméride com a estreia do “Pinóquio”. A companhia tem 8 colaboradores a tempo inteiro, mais outros tantos a tempo parcial. Procuramos, por isso, ir aguentando, com grandes dificuldades, porque não queremos acreditar numa derrota, passados vinte anos de projeto artístico”, atalhou.

Sobre a evolução do setor da cultura e em especial no teatro, Luiz Oliveira mostrou-se cauteloso quanto ao futuro.

“Tudo vai depender da evolução da pandemia e de como a sociedade se reintegrará. As artes de palco vivem da bilheteira e, não havendo público, não vemos formas de inversão do atual paradigma”, recordou, reconhecendo que nesta fase, o apoio da Câmara de Lousada será vital e mais importante que nunca para ajudar os agentes e atores culturais.

“Sem dúvida. O Município de Lousada conhece e apoia o nosso projeto desde a primeira hora. É sensível à cultura e ao desenvolvimento transversal às outras áreas, que daí resultam”, adiantou.

Falando do Folia – Festival de Artes do Espetáculo , uma referência no Norte de Portugal e não só, o ator admitiu não ser expectável que o festival não se viesse a concretizar.

“Este ano até tínhamos uma novidade para o público. O Folia ia realizar-se ao ar livre, na avenida senhor dos aflitos e no parque urbano. Visto ser ao ar livre decidimos deslocar as datas do festival para fins de junho e início de julho. Infelizmente não pôde acontecer”, recordou, esclarecendo que a decisão de cancelar o festival foi assumida no seguimento dos vários cancelamentos de eventos que juntassem um grande número de espetadores.

“Era esse, também, o caso do Folia”, avançou, manifestando que no próximo ano vão existir condições para voltar a organizar o Folia e Foliazinho.

“Queremos acreditar que estejam reunidas todas as condições para podermos, com o público, festejar e respirar de alívio, depois desta “guerra”.

Questionado sobre o panorama do teatro e da cultura na região, Luís Oliveira confessou que também os grupos amadores acabarão por sentir na pele os efeitos do confinamento.

“Existem, de facto, outros grupos, ainda que não profissionais. Não obstante, estão, como nós, confinados à espera de poder desenvolver a sua atividade artística em pleno e continuar o seu projeto”, concretizou, não querendo para já vaticinar qual o futuro destes grupos, a maioria amadores, quando questionado sobre um possível encerramento.

“Nem queremos pensar nisso”, asseverou, defendendo que as atividades artísticas tal como as económicas são igualmente preponderantes e devem ser encaradas como tal. 

“A sociedade é feita das diversas atividades económicas, onde a artística tem o seu papel indispensável. Com esta consciência, os apoios deverão ser distribuídos por todos para que a engrenagem possa continuar o seu curso”, acrescentou, deixando uma palavra de incentivo e esperança.

“O teatro ocidental tem 2500 anos e nós, Jangada Teatro já cá andamos há vinte. O teatro, em cada época, sempre se foi renovando. Em tempos de crise precisamos, acima de tudo, não desanimar”, confessou.   

Sobre os próximos desafios da Jangada Teatro, o ator assumiu que o futuro passa por continuar a apostar na qualidade e no bom serviço público.

“Continuar a trabalhar para o bem comum, prestando um bom serviço público. Há que arregaçar as calças e atravessar o pântano que temos à nossa frente”, frisou, mostrando-se convicto que a Jangada Teatro tem como meta regressar aos palcos na próxima temporada, a partir de setembro.

“Ainda gostaríamos de voltar a pisar os palcos durante as comemorações dos vinte anos”, sublinhou.

A Jangada teatro foi fundada em 1999 em Lousada e sempre teve como propósito contribuir para potenciar o nível cultural da região geográfica onde está inserida.

Com um trabalho diversificado, um público-alvo também muito próprio, a Jangada Teatro é, presentemente uma referência no meio cultural da região, conhecida nas principais salas de norte a sul de Portugal e no estrangeiro.

o Folia – Festival de Artes do Espetáculo de Lousada e Foliazinho, direcionado a um público mais jovens, são os dois eventos âncoras da companhia.

Orquestra Ligeira do Vale do Sousa Big Band

Manuel Vieira, diretor artístico da Orquestra Ligeira do Vale do Sousa Big Band, reconheceu igualmente que a orquestra, tal como a maioria das orquestras, sentiu de forma severa os efeitos desta crise sanitária, tendo cancelado cinco concertos que tinha agendado.

“Tínhamos cinco concertos agendados e todos foram cancelados. Embora sendo uma banda amadora, trabalhamos como profissionais e os nossos músicos, por via desta situação, estão parados”, disse, admitindo que antes de Setembro dificilmente os grupos como a Orquestra Ligeira do Vale do Sousa Big Band ligado à Associação Cultural e Musical de Paredes poderão voltar aos palcos.

“Tínhamos inclusive um concerto em Felgueiras, agendado para o mês de Julho, mas com esta situação, tenho dúvidas que seja possível fazê-lo”, expressou, salientando que o facto da Associação Cultural e Musical de Paredes ter protocolos estabelecidos com a autarquia paredense minimiza os potenciais impactos financeiros que serão mais evidentes e se farão sentir com mais incidência noutras  instituições e grupos da mesma área.

Ao Novum Canal, Manuel Vieira, destacou, também, que o facto da Big Band tocar para um mercado clássico, com um reportório muito próprio, com ritmos mais do género jazz e interpretar os clássicos, faz com que o mercado seja ainda mais difícil, trabalhando a orquestra para um público muito próprio.

“Realizamos concertos em auditórios, revisitamos  os clássicos do jazz, nomes consagrados deste género, com obras celebrizadas ou compostas por Glenn Miller, Benny Goodman, Count Basie, Duke Ellington, Ella Fitzgerald, Frank Sinatra, mas também interpretamos latino-americanos e os clássicos portugueses”, revelou, sublinhando que Orquestra Ligeira do Vale do Sousa Big Band é uma grupo composto por 23 elementos, uma referência nesta área, tendo participado já no concurso de orquestra de Alcobaça, em concertos na Aula Magna, em Lisboa,  dispondo de dois trabalhos discográficos editados e está a trabalhar na gravação de um novo cd.

Manuel Vieira realçou, também, que  a OLVS Big Band foi fundada com o objetivo de revitalizar a atividade associativa musical da ACMP, sendo, hoje, uma aposta ganha e uma referência na comunidade.

Quanto ao regresso dos eventos culturais, Manuel Vieira defendeu estar convicto de que toda esta situação de confinamento e pós-desconfinamento possa ser ultrapassada para bem de todos os intervenientes nesta área.

  “Desejo sinceramente que esta situação possa ser ultrapassada para bem de todos e em especial para os grupos e instituições culturais que tiveram de desmarcar concertos e viram os seus programas afetados”, concretizou,  sustentando é urgente que os músicos e os interpretes da Big Band possam voltar a fazer aquilo que mais gostam.

Banda de Música de Lousada

José Ferreira, secretário da Banda de Música de Lousada,  mostrou-se igualmente preocupado com esta situação e as diretrizes emanadas pelo Governo na sequência do Estado de Emergência e calamidade pública que acabaram por atingir, também, a cultura e os seus agentes.

“Tínhamos agendados 14 saídas para festas e romarias e desde que iniciou o surto realizamos apenas um concerto. Todos os outros foram cancelados. Estamos a falar de uma estrutura composta por 70 músicos, sobejamente conhecida na região, com atuações em várias localidades que devido à restrições viu toda a sua atividade ser atingida”, garantiu, confirmando que apesar dos seus músicos ganharem à peça, a Banda de Música de Lousada tem compromissos e encargos financeiros fixos.

“É evidente que os músicos só ganham se realizarem  concertos, mas há sempre despesas. Há sempre custos fixos, despesas com instalações, o vencimento do maestro. Tendo em conta as indicações da Direção-Geral de Saúde, acredito que não será possível  retomar as atividades até Setembro, pelo que, à exceção dos ensaios para os concursos que vamos fazer, a Banda de Música vai ter a sua atividade praticamente cancelada até ao final de 2020”, confessou, recordando ainda que a Banda de Música iniciou em Novembro a preparação para esta época, mas acabou por ficar de mãos e pés atados, devido ao adiar dos programas festivos.

“Além dos impactos financeiros, toda esta situação acabou por ter impactos psicológicos nos músicos que se prepararam para esta época com afinco e esperavam tocar” declarou.

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