São vários os clubes de futebol não profissional, do Campeonato de Portugal e outras divisões, que estão numa situação vulnerável com o fim antecipado das competições e confessam estar apreensivos quanto ao futuro.
Ao Novum Canal, vários dirigentes de emblemas da região, que militam nesta competição, assumiram não discordar da decisão que foi assumida pelo Governo e pela Federação Portuguesa de Futebol, mas recordam que o fim antecipado da prova obrigou os emblemas a reinventarem-se financeiramente, a liquidar vencimentos e a refazer os orçamentos para a próxima época.
Ao Novum Canal, Leonel Costa, dirigente do FC Felgueiras 1932, assumiu que o fim antecipado da prova tem de ser avaliado em várias vertentes, quer do ponto de vista desportivo, quer financeiro.
Do ponto de vista desportivo, o dirigente do FC Felgueiras 1932 reconheceu que o clube terminou as competições em que participou na melhor fase, com a equipa sénior a garantir a manutenção, terminando a prova em sétimo lugar, com 41 pontos, a equipa B subiu à Elite, enquanto nos escalões de formação, a decisão assumida pelas autoridades foi pacífica, e o clube ainda antes de das diretrizes do Governo e dos primeiros casos de Covid-19, cancelou os treinos e os jogos.
“Obviamente que os atletas deixaram de competir, economicamente foi mais difícil, mas cumprimos com os nossos compromissos e cumprimos com os nossos compromissos, mas existem outros custos fixos que tivemos de assegurar, vencimentos de funcionários , equipas técnicas e os patrocinadores fecharam as torneiras”, expressou, recordando que as receitas do clube foram igualmente atingidas.
Leonel Costa avançou, ainda, que apesar de não serem conhecidos os impactos que a crise sanitária provocou no tecido empresarial, uma parte dos clubes vai acabar por ver as suas receitas condicionadas.
No caso do FC Felgueiras 1932, o dirigente mostrou-se, igualmente, preocupado pelo facto das empresas do setor do calçado poderem ter sido também afetadas e com as consequências que tal situação venha a ter no clube.
Além da quebra de receitas e de patrocínios, Leonel Costa recordou que na próxima época os clubes terão obrigatoriamente de repensar a sua política orçamental.
“Não tenho dúvidas que na próxima época, em termos de apoios, vai ficar tudo mais difícil. Os clubes vão ter de fazer orçamentos mais realistas de acordo com a sua dimensão e fazer uma gestão criteriosa”, confirmou.
Quanto às indicações das autoridades governativas e da Federação Portuguesa de Futebol de terminar mais cedo a competição, Leonel Costa concordou que não existiam condições para realizar os jogos em falta, perante o problema sanitário que assolou a região e o país.
Nesta questão, o dirigente confessou mesmo que a decisão de cancelar a prova aceita-se, relembrando que fazer jogos em junho ou julho, como chegou a ser sugerido, só iria acarretar mais despesas.
União Sport Clube de Paredes
Também o presidente do União Sport Clube de Paredes, António Pedro, assumiu que a decisão das autoridades políticas e desportivas acabou inevitavelmente por ter repercussões no futebol não profissional.
“Há um antes e um depois desta crise sanitária. Somos um clube, tal como outros, que vive das suas quotas, das receitas dos jogos, dos patrocínios, dos mecenas, da publicidade”, manifestou, sublinhando que os atletas e o clube, respeitando a decisão que foi implementada, preferiam ter jogado.
“Preferíamos ter jogado e conquistar os objetivos dentro de campo. O nosso propósito era jogar. Tínhamos essa ambição, mas a saúde dos intervenientes, dos atletas e demais atores e agentes desta modalidade está obviamente em primeiro lugar e como tal tivemos que aceitar as regras que foram definidas”, atalhou, discordando apenas no “timing” que foi escolhido para anunciar o cancelamento da competição.
“Os nossos atletas estavam a ser devidamente acompanhados, encontravam-se em casa, a cumprir o plano de treino individual”, sustentou.
Sobre o futuro da competição e aquilo que será a preparação da próxima época, António Pedro, reconheceu que não se afiguram bons ventos e os clubes vão ter menos capacidade financeira para estruturar a próxima temporada.
“Todas as coletividades vão sentir dificuldades no presente e no futuro, mas o União Sport Clube de Paredes, já está habituado a fazer mais com pouco, é um clube resiliente, habituado a fazer face às adversidades. Julgo que, de uma forma geral, os clubes serão obrigados a fazer uma gestão ainda mais criteriosa e definir orçamentos mais realistas. Tirando os clubes onde há sociedades anónimas desportivas, todos os outros vão sentir sérias dificuldades”, asseverou, adiantando, ainda, que, nesta fase, a angariação de receitas está restringida às quotas dos sócios.
António Pedro mostrou-se também cauteloso quanto ao impacto que esta crise sanitária possa ter provocado nas empresas e no tecido empresarial.
Refira-se que o União Sport Clube de Paredes, quando foi conhecida a decisão de cancelar o Campeonato de Portugal, estava em oitavo lugar, com 34 pontos.
Amarante FC
O presidente do Amarante FC, António Costa, alinhou, também pelo mesmo diapasão e cauteloso quanto aos impactos financeiros que a crise sanitária poderá provocar nos clubes do futebol não profissional.
Falando da situação financeira do Amarante FC. o responsável pelo clube aproveitou para revelar que o emblema tem os salários em dia com todos os atletas.
Também António Costa questionado sobre o fim antecipado da competição e o “timing” escolhido, reconheceu que este poderio ter sido diferente, antevendo que na próxima época os clubes vão ter de repensar a sua estratégia em termos financeiros.
“Prevejo que a próxima temporada seja mais penosa, com os clubes a terem de fazer orçamentos mais realistas. No Amarante FC estamos conscientes dessa realidade, já começamos a preparar a próxima época e obviamente que o plantel terá que sofrer alterações”, declarou, admitindo não entender como, neste patamar, existem atletas que auferem ordenados elevados.