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Autores partilham testemunhos e inquietações no Dia do Autor Português

Esta sexta-feira assinalar-se o Dia do Autor Português, data instituída em 1982 pela Sociedade Portuguesa de Autores que tem como objetivo homenagear os autores portugueses nas diferentes áreas artísticas e relevar a sua importância e contributo no apoio e desenvolvimento da cultura.

O Novum Canal foi ouvir vários autores de diferentes áreas e expressões artísticas num dia que lhes é consagrado  e num momento particularmente complexo para os autores e demais agentes e atores das diferentes manifestações culturais, na sequência da pandemia Covid-19  que se abateu sobre o país e o resto do mundo.

Nuno Higino, diretor da Casa das Artes Felgueiras realçou que esta data celebra acima de tudo os autores, de literatura e outras expressões, que são fundamentais para qualquer língua.

“Confesso que tenho alguma dificuldade de lidar com datas, mesmo as que têm a ver com a minha vida pessoal… Mesmo assim, acho importante focar a atenção sobre os autores e, neste caso, os de língua portuguesa. Os autores, de literatura ou não, são fundamentais para qualquer língua: porque a preservam, a refrescam e a renovam. De alguma forma, não há língua sem autores…”, disse, salientando que o Covid-19 acabou por criar restrições, também, aos autores e demais agentes e atores ligados ao campo vasto da cultura que vivem dos direitos de autor.

“Afeta toda a gente e também os autores, sobretudo aqueles que vivem dos direitos de autor ou de outras atividades diretamente relacionadas com a sua escrita. Os que têm muita procura e ganham muito dinheiro em direitos, esses aguentam a crise. Os que não dependem dos direitos de autor para viver, não me parece que sejam também diretamente afetados…”, referiu.

Nuno Higino confirmou, também, que o setor livreiro e editorial foi igualmente atingido no período de confinamento, sendo necessário intervir no sentido de minimizar os efeitos desta crise que também é económica.

“Sim, acho que é importante fazer alguma coisa. Sabemos que o setor cultural, em geral, e o editorial e livreiro, em particular, são muito frágeis economicamente falando e, por isso, são os que mais se estão a ressentir. Penso que as entidades públicas (autarquias, escolas, bibliotecas, o próprio Estado em si…) deveriam comprar livros, sobretudo às pequenas editoras, de modo a mitigar as suas dificuldades e as dos autores. Seria uma forma de ajudar”, frisou reconhecendo que a opção de criar sites e plataformas dedicado a livros e autores para enfrentar tempos de crise pode ser uma excelente ideia para os autores estarem em contactos com os seus leitores e seguidores.

Quanto aos meios que utiliza para divulgar a sua obra, Nuno Higino é perentório: “Não me preocupo muito com isso porque não vivo da minha escrita e dos seus direitos. A escrita, sendo muito importante para mim, não dependo dela para o meu sustento e o da minha família. Não vivo angustiado com isso”, acrescentou, reconhecendo, no entanto, que tem recorrido ao Facebook e a outras plataformas para promover o contacto com os seus leitores.

“Sim, publico algumas coisas na única rede que uso, o FB. É também uma forma cómoda de informar e convidar os amigos para apresentação de livros, etc”, adiantou.

Questionado sobre o futuro e sobrevivência dos autores, assim como do setor livreiro e do mercado editorial, o responsável pela Casa das Artes mostrou-se otimista que esta fase irá ser ultrapassada, confirmando que a escrita, a arte e a cultura vão continuar a fazer o seu percurso.  

“Esta crise é apenas mais uma… O livro, as editoras e a escrita vão sobreviver, mais uma vez. Aliás, a sobrevivência faz parte da essência da escrita, da arte, da cultura em geral. A literatura é o que sobrevive, o que ultrapassa crises, guerras, cataclismos, incompreensões, ignorância, desprezo e despudor das entidades que mais a deviam preservar. Acredito até que este período pandémico se mostrará no futuro como um tempo de criação e produção excecional na área da literatura e das artes”,  atalhou.

“Condiciona a divulgação física do seu trabalho, o encontro sempre saudável e gratificante com os leitores, embora ele possa ser feito de outras formas”

Cidália Fernandes, professora na Escola Secundária de Penafiel e conhecida escritora infantojuvenil, com várias obras publicadas, relevou igualmente a importância de existir um dia sagrado aos autores.

“Como sou autora, para mim, todos os dias são de escrita; como sou mãe, todos os dias celebro o dia da mãe e assim por diante. O dia do autor é mais do leitor, pois o autor trabalha sempre em função de um destinatário, mesmo sendo ele próprio. Porém, é sempre bom que a data não passe despercebida, pois reitera a importância da leitura e do agente que contribui, de uma forma ou de outra, para o crescimento da Humanidade”, confessou, confirmando que esta fase de confinamento acabou por condicionar o seu trabalho e o contacto físico com os leitores.

“Condiciona a divulgação física do seu trabalho, o encontro sempre saudável e gratificante com os leitores, embora ele possa ser feito de outras formas, por exemplo, através de vídeos e de encomendas online. É mais impessoal e, de certa forma, o autor sente-se um pouco aprisionado ao texto que aspira libertar-se e voar”, afirmou.

Ao Novum Canal, também Cidália Fernandes mostrou-se apreensiva quanto ao futuro do setor livreiro e editorial.

“Este setor há muito que está em crise, não é só de agora. Há muita oferta, na verdade, e pouca procura, ou é apenas um setor da sociedade que procura o livro. O principal objeto é encontrar formas de estimular a leitura e o acesso ao livro, pelo menos por parte de um público mais jovem, que substitui o livro pelo computador, por exemplo”, sustentou, confessando que tem aproveitado o seu tempo para estar com aos alunos, numa tentativa de melhorar o ensino à distância e acompanhar novas aprendizagens que, segundo a escritora, também constituíram para os professores um verdadeiro desafio do qual os docentes estão a sair-se bem.

Já quanto à divulgação da sua obra em tempos de desonfinamento, Cidália Fernandes referiu que tem feito alguns vídeos a contar histórias da sua autoria para os mais pequenos (O Cantinho da Cidália).

“Tenho também preparado vídeos sobre a vida e obra de alguns autores, direcionados para os alunos do secundário e para o público em geral (José Saramago, Eça de Queirós…) “, confirmou, sublinhando que tem recorrido ao facebook para promover os vídeos e estar mais próxima dos seus leitores.

Apesar do cenário ainda de incertezas, a autora declarou acreditar que em tudo irá regressar à normalidade.

“Tudo aponta para que em breve tudo regressará à normalidade, pelo menos no nosso país, pois as pessoas estão a cumprir e a respeitar as orientações. O problema é que estamos abertos para o mundo e estas atitudes não estão a ser tomadas em muitos países. É tempo de paragem. Acredito que para uns será positiva, para outros menos, dependerá da forma como cada um encarar os novos tempos”, constatou, sustentando que está a trabalhar num projeto relacionados com seu romance “Angélica, Histórias do Ser e do Não-ser”.

“Um autor tem sempre um projeto em mão. O meu romance Angélica, Histórias do Ser e do Não-ser surgiu no tempo certo, pois aborda também a questão de uma pandemia no passado, no século XVI. O novo projeto está, de certa forma, relacionado com este”, concretizou.

“Espero que não se verifique o temível segundo surto, a partir de outubro, e ainda um terceiro, mais tarde. A produção editorial em papel caiu quase em 100%. As livrarias físicas, tal como o comércio em geral, estiveram encerradas durante o período os três períodos de estado de emergência”

Também José Carlos Pereira, escritor felgueirense admitiu que os autores são fundamentais para o desenvolvimento cultural de uma comunidade.

“Todas as datas temáticas à volta dos autores, dos textos, livros e de toda a abrangência artístico-cultural são fundamentais para lembrar aos leitores e ao público em geral que há pessoas que perdem (ou ganham) muito do seu tempo diário na produção do belo, uma missão estoica e, na esmagadora maioria dos casos, muito pouco compensadora em termos materiais. Porém, como diz uma grande amiga minha, além da nossa luta diária pela sobrevivência, temos de deixar neste mundo as nossas pegadas, o nosso testemunho humilde de vida, a nossa mensagem de humanidade. Porque o autor é um humanista, não é um fabricante”, asseverou, alinhando, também, pelo diapasão que a pandemia está a afetar todas as atividades económicas, culturais e sociais, muito mais do que pensávamos, no início.

“Espero que não se verifique o temível segundo surto, a partir de outubro, e ainda um terceiro, mais tarde. A produção editorial em papel caiu quase em 100%. As livrarias físicas, tal como o comércio em geral, estiveram encerradas durante o período os três períodos de estado de emergência. Estão, agora, a reabrir timidamente, dentro da lógica do desconfinamento gradual. Estão suspensos os eventos culturais, entre os quais as apresentações de livros e feiras do livro, que são momentos importante de divulgação e venda das obras, além do contacto imprescindível com os leitores”, manifestou.

O autor esclareceu, também, que o apoio anunciado, esta sexta-feira, pelo primeiro-ministro, António Costa, um apoio às autarquias já neste verão, cujo bolo é de 30 milhões euros, para a promoção cultural que venha ajudar os agentes culturais, principalmente os que estão a atravessar dias muito negros, muitos têm de acorrer às IPSS para não passarem fome.

“Em Portugal, sempre que se verifiquem situações gravosas e para as quais é preciso combater os efeitos nefastos,  é costume os vários poderes instituídos anunciarem apoios antes de definirem  em que consistem esses apoios e regras para a sua obtenção. Deviam primeiro conceder os apoios e depois anunciá-los. Foi sempre assim, não é só de agora. A propósito, hoje, Dia do Autor Português, o primeiro-ministro, António Costa, anunciou que o governo um apoio às autarquias já neste verão, cujo bolo é de 30 milhões euros, para a promoção cultural em concelho durante os próximos três meses. Espero que este bolo, que sai do bolso de todos os portugueses, venha ajudar os agentes culturais, principalmente os que estão a atravessar dias muito negros, muitos têm de acorrer às IPSS para não passarem fome. Espero que o bolo não contemple, por exemplo, a contratação de cantores “pimba” por dezenas e dezenas de milhares de euros, sob a batuta eleitoralista da alienação de massas, nas grandes festas de verão”, anuiu.

Refira-se que José Carlos Pereira apresentou no dia 29 de fevereiro o seu mais recente trabalho, “O Sol Não Anda”, em coautoria com a talentosa ilustradora Beatriz Félix, que apesar do Covid-19 está a ter boa aceitação junto dos leitores.

“O meu novo livro infantojuvenil, “O Sol Não Anda”, em coautoria com a talentosa ilustradora Beatriz Félix, foi publicado a 29 de fevereiro, na abertura da programação literária do Fantasporto. Passados dois dias, fomos surpreendidos com a entrada definitiva do Covid 19 em Portugal. O livro tem recebido boa apreciação crítica, mas nunca mais fizemos uma apresentação, as  livrarias físicas encerraram durante o estado de emergência, só agora é que reabriram. O único meio de venda era a Wook e a Betrand online. Neste momento, a mentora do projeto editorial, a arquiteta Lília de Castro e Costa, mantém contactos com algumas instituições e livrarias nos sentido de se viabilizar nos próximos meses eventos literários onde a obra seja apresentada”, concretizou, avançando que a sua mentora juntamente com um grupo de amigos têm feito a divulgação do livro nas redes sociais.

“Modéstia à parte, movimento-me muito bem nos meios culturais de base do país e não só. Com a ajuda da mentora, uma pessoa extremamente abnegada, juntamente com um grupo de amigos, a divulgação está sempre garantida. O importante é que se promovam eventos, que o bolo dos € 30 milhões seja também para a cultura de base”, disse.

Questionado sobre se a crise sanitária que está a atingir os autores, o setor livreiro e o mercado editorial irá ser ultrapassada a curto/médio prazo, admitiu que a edição em papel fica grandemente comprometida com a crise económica provocada por esta economia.

“Já quando as coisas estavam bem, a maioria das pessoas preferia oferecer aos filhos bens que não fossem livros, como, por exemplo, hambúrgueres e outros venenos alimentares. A partir de agora, em que os orçamentos familiares já estão comprometidos, só quem gosta mesmo de livros é que comprará, mesmo com algum gosto. As edições em e-book, que são muito mais baratas, pode ser uma saída, embora menos atrativas e, muito menos, para o público infantojuvenil”, relembrou.

Abi Feijó,  realizador de filmes de animação e fundador da Casa-Museu de Vilar, em Lousada, admitiu estar seriamente preocupado com a lastro provocado pela Covid-19 e as consequências que o mesmo poderá vir a provocar também no setor da cultura e das artes.

O autor concordou com a ideia da Sociedade Portuguesa de Autores dar a conhecer o trabalho dos autores e dignificar esta área.

Quanto ao impacto da crise sanitária na sua área, Abi Feijó reconheceu que este não foi tão significativo quanto noutros domínios da expressão artística e cultural, porque tanto ele como a Regina Pessoa, que é também cineasta de animação, estiveram em teletrabalho.

Abi Feijó mostrou-se bem mais preocupado relativamente à Casa Museu de Vilar, um pequeno museu dedicado à magia da imagem em movimento, ao pré-cinema e à animação Internacional, que devido à crise sanitária esteve encerrada desde o dia 09 de março, tendo reaberto esta semana, não tendo tido até ao momento nenhuma visita.

“As atividades do museu estão paradas”, constatou, mostrando-se igualmente preocupado pelo facto das atividades referentes ao serviço educativo (worshops) e as sessões de informação com as escolas estarem suspensas ou mesmo cancelados, com impacto nas receitas.

“As receitas secaram”, avançou, assumindo que esta é uma situação penosa, quanto mais que todos os apoios a que a instituição tinha concorrido foram recusados.

“Tenho uma reunião agendada com a Câmara de Lousada para a próxima semana. Estou preocupado. Não sei como vamos sair daqui”, atalhou.

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