A conhecida cineasta Regina Pessoa, residente na Casa Museu de Vilar, com vários distinções e prémios obtidos com o seu filme “Tio Tomás, a Contabilidade dos Dias”, lamentou que o Ministério da Cultura continue a “ignorar” e a manter o silêncio em relação à sua obra e aos vários prémios e distinções que esta tem sido alvo à escala internacional.
“Se não há meios, o Ministério da Cultura poderia manifestar a solidariedade de outra forma”, disse, criticando o mesmo ministério por não encorajar os profissionais da cultura, nem deixar palavras de estímulo, numa altura difícil para todos e que está a atingir, de igual forma, o setor, também este fragilizado na sequência da crise sanitária e que acabou por afastar os criadores, os artistas, os atores e agentes culturais do seu público.
A este propósito, Regina Pessoa considerou que o trabalho do criador e do autor tem sempre como fim último o público e só faz sentido quando é partilhado por este.
“Há todo um trabalho que é realizado e tem como destinatário. Sem que este seja fruído e partilhado é como se o elo mais importante se quebrasse. É quase como uma sensação estranha. É como estar em suspenso”, disse, numa alusão ao distanciamento entre o autor e o fruidor da obra e às medidas de confinamento que o Governo em articulação com as autoridades de saúde implementou.
Questionado sobre os impactos da Covid-19 está a ter setor, Regina Pessoa declarou que associado ao receio e à ansiedade que é ainda evidente, alguma pessoas criaram algumas rotinas e hábitos com o confinamento que só o tempo dirá se vão voltar a sair e a usufruir das atividades e equipamentos culturais que reabrem no próximo dia 1 de junho.
“Em dois meses eliminaram-se atividades culturais”, avançou, sublinhando que a abertura de dia 1 não é já a retoma do setor, mas é um primeiro passo e que mesmo durante a fase em que foi decretado o Estado de Emergência esteve sempre a trabalhar.
“A animação é um trabalho de estúdio”, declarou, sustentando que, nesta fase, esteve a trabalhar em projetos de colaboradores, acabou um trabalho para a Alemanha e um projeto para Itália e irá fazer um filme dedicado à sua mãe, ainda sem data para estrear.
“Vou desenvolver a parte escrita, fazer a pesquisa gráfica e fazer o storyboard, mas ainda não tenho uma data para a sua estreia”, confessou.
Sobre o estado do cinema de animação, Regina Pessoa realçou que esta atividade é hoje respeitada, existe uma nova geração de realizadores com talento e criatividade que estão a desenvolver um trabalho de qualidade.
A cineasta relevou, mesmo, que se não fosse a crise sanitária, o cinema de animação estaria a viver uma fase de ouro.
“A crise sanitária veio obviamente perturbar”, asseverou, frisando que o setor quer retomar a atividade o quanto antes, mas existem ainda muitas incógnitas de como tudo se vai processar.