O Cais Cultural de Caíde de Rei, instituição lousadense que tem como missão difundir a cultura nas suas diversas vertentes, associou-se à iniciativa nacional “Vigília Cultura e Artes” que tem como meta apoiar os atores e agentes culturais que ficaram sem rendimentos, na sequência da crise sanitária que se abateu sobre o país.
Luís Peixoto, presidente do Cais Cultural de Caíde de Rei, afirmou que a coletividade se associou a esta iniciativa com o objetivo de alertar o Governo e os responsáveis pelo setor para a situação critica com que muitos atores e agentes da cultura estão confrontados.
“O Cais Cultural de Caíde de Rei juntou-se a esta iniciativa a nível nacional para reforçar a necessidade de alertar o Governo para a situação crítica em que se encontra a Cultura e as Artes em Portugal, especialmente neste contexto pandémico, em que a paralisação do sector foi quase total e os apoios são muito poucos, e em alguns casos, nenhuns”, disse, salientando que a ideia foi implementada pelo teatro amador Linha 5, grupo residente no Cais Cultural de Caíde de Rei.
“Com o grupo de teatro amador Linha 5, com direção artística da atriz profissional Patrícia Queirós, que há 10 anos formou o grupo e mantém o seu contributo pro bono desde então, temos vindo, através dela, a ter acesso ao impacto que a falta de política cultural está a ter na realidade artística e por isso não hesitámos em juntar-nos a esta vigília, no passado dia 21 de Maio, para mostrar a nossa solidariedade e preocupação com as artes e a cultura em Portugal. A implantação desta iniciativa surgiu de um movimento recém-criado, denominado Ação Cooperativista, que tem vindo a gerar uma rede de debate e ações concretas junto do governo, reforçando a luta dos sindicatos culturais e a voz dos profissionais das artes”, destacou, sustentando que a comunidade e dos demais atores e agentes que estão ligados à cultura e às artes se têm mobilizado em prol desta causa.
“Todos se têm mobilizado na exigência dos seus direitos e na luta por uma reforma na política cultural no país. Enquanto amadores, posicionamo-nos como parte integrante da sociedade civil preocupada com as condições dos profissionais que muito merecem o nosso apoio pelo serviço público inestimável que nos prestam. O retorno é positivo, pois é precisamente um dos objetivos do movimento Cooperativista é o de sensibilizar a comunidade não artística para este flagelo”, atalhou.
Falando dos impactos que a pandemia teve na produção do teatro amador Linha 5, Luís Peixoto recordou que desde o início do surto todas as atividades do grupo foram suspensas, nomeadamente, Festival de Teatro Amador, atividades gastronómicas, concertos, caminhadas, encontros, ensaios do grupo de teatro, treinos, reuniões, entre outras.
“Desde o foco do covid-19 no concelho de Lousada, suspendemos toda a atividade do Cais Cultural logo no dia 9 de março. Desde aí, toda a programação prevista foi cancelada, nomeadamente o Festival de Teatro Amador, atividades gastronómicas, concertos, caminhadas, encontros, ensaios do grupo de teatro, treinos, reuniões, entre outras. Por sinal, março, abril, maio e junho seriam os meses com mais atividade e, consequentemente, aqueles que nos permitiriam angariar mais fundos. Logo, as receitas da associação diminuíram substancialmente, mas os encargos fixos associados ao edifício mantêm-se, pelo que será muito complicado se nos mantivermos de portas fechadas durante muito tempo”, avançou, sublinhando que no que diz respeito às medidas e restrições que possam ser impostas, as coisas serão ainda mais complicadas, pois o Cais tem condições muito particulares que não é possível cumprir com as devidas regras, nomeadamente o distanciamento social.
“Numa sala com cerca de 100 lugares não será exequível fazer eventos para 10 ou 20 pessoas. Além disso, não temos orçamento que nos permita fazer uma limpeza e desinfeção apropriadas”, expressou, reforçando que o Cais Cultural e todos os seus projetos, onde se inclui o Teatro da Linha 5 e a Confraria do Sarrabulho Doce, viram várias atividades canceladas, com destaque para o festival de teatro amador que iria receber seis grupos de teatro e a participação em diferentes eventos ao longo do país.
“Entre os meses de março e junho seria o período com maior dinâmica no Cais Cultural. Agora, aproveitamos para nos focar na dinâmica das redes sociais, onde às terças temos o programa “Culturalidades: momento de conversa e partilha sobre cultura”, às sextas o “Programa do Bino” com a participação em direto de atores de grupos de teatro amador e, recentemente, o “Clube de Leitura em Voz Alta”, com a partilha de vídeos com momentos de leitura. Mas nada substituiu a proximidade com os nossos sócios, amigos e restante público”, concretizou.
“Nesta fase, acredito que as associações sem fins lucrativos estejam a tentar “segurar o barco”
Luís Peixoto relevou, também, a necessidade das autoridades apoiarem o quanto antes as associações e instituições culturais do concelho e até da região.
“Claro que sim, nomeadamente as associações que têm uma dinâmica regular e que têm vários encargos fixos ligados à manutenção das suas sedes sociais. Muitas associações sem fins lucrativos sobrevivem com as quotas dos associados e, principalmente, com as receitas angariadas nos diferentes eventos, logo se os eventos são cancelados e os sócios não se podem deslocar às sedes, haverá uma diminuição significativa de receitas. É preciso um programa especial de apoio ao associativismo por parte das entidades públicas, porque as associações movimentam milhares de pessoas em todo o país e não podem ser esquecidas”, afirmou, reconhecendo que as dificuldades são transversais às coletividades.
“Nesta fase, acredito que as associações sem fins lucrativos estejam a tentar “segurar o barco”, mas não tenho dúvidas que nos próximos meses possam existir muitas em dificuldades se não existir apoios. A nível profissional tenho conhecimento de entidades e vários “artistas a recibos verdes” que já atravessam dificuldades”, manifestou, retorquindo ter sérias dificuldades que se consiga, em breve, retomar a normalidade.
“Mesmo que isso possa vir a acontecer, o público vai ter receio em concentrar-se em locais fechados e nem todos os espaços vão conseguir implementar as devidas condições de segurança recomendadas pelas entidades. E depois, vai ser precisar algum tempo para “juntar dinheiro” para colmatar todas as despesas dos meses em que não houve atividade. Infelizmente, não vejo o melhor cenário para a cultura nos próximos tempos”, assumiu.
Questionado sobre o regresso das atividades ao Cais Cultural de Caíde de Rei, Luís Peixoto assumiu que todos os membros do grupo estão muito expectantes.
“Claro que queríamos retomar a atividade da associação o mais breve possível, mas a saúde está em primeiro lugar. Vamos analisando as recomendações das diferentes entidades para perceber o que se adapta à nossa realidade. Não é para nós sustentável concretizar eventos em que só tenhamos 10 ou 20 pessoas. Não temos um espaço nem orçamento que nos permita implementar todas as medidas de segurança e proteção exigidas”, adiantou.